Após uma semana enfrentando alagamentos, uma família no Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, precisou se mudar temporariamente para o telhado de sua casa. A inundação foi causada por chuvas intensas que afetaram a região, levando a água a invadir lares e destruir pertences.
Para se proteger, a família construiu uma barraca improvisada, utilizando materiais de feira. Barras de ferro servem como vigas de sustentação, enquanto lonas verdes atuam como telhado. Além disso, engradados de bebidas foram transformados em piso, suportando a pia utilizada diariamente. A necessidade de um acesso seguro levou a uma mesa de ferro dobrável a ser utilizada como apoio para escalar o muro.
Segundo Vânia Alves, responsável pela família e feirante, a situação se agravou rapidamente. "Acordei às 2h da manhã para ir trabalhar, e a água já estava subindo. Tive que pegar as crianças e improvisar este abrigo para que não ficassem na chuva", contou Vânia, que se encontra com seus cinco netos sob a cobertura improvisada.
A água alagou o lugar até o nível dos colchões e causou a perda de móveis e eletrodomésticos. A feirante também relatou que algumas crianças apresentaram "caroços" nos pés devido à água contaminada e até febre. Apesar do esforço para evitar a situação, o medo de novas chuvas persegue a família.
Na última visita do g1 ao local, na quinta-feira (6), a família tentava se organizar e realizar uma limpeza, com a esperança de retornar ao chão. O ar estava impregnado com o forte odor de esgoto enquanto crianças uniformizadas pedalavam suas bicicletas entre as águas que ainda persistiam na área.
A Prefeitura de São Paulo manifestou a intenção de relocar os moradores da região, oferecendo indenizações que podem variar entre R$ 20 mil a R$ 50 mil. Contudo, Vânia, que reside no local há 20 anos, relembra um episódio similar em 2009 e expressa sua determinação em permanecer: "Não posso abandonar o que eu construí por causa de R$ 50 mil. O valor não cobre os custos de reconstrução. Tenho três famílias aqui, e eu vou me reerguer".
A Kombi azul da família, utilizada para vender legumes e verduras, também foi comprometida pelo alagamento, resultando em prejuízos significativos, que Vânia estima entre R$ 2 mil a R$ 3 mil. "Perdi cebolas e chuchus que mofaram devido à água", lamenta.
Enquanto isso, as crianças, não totalmente cientes da gravidade da situação, tentam aproveitar o calor do dia brincando com potes plásticos e agua, trazendo um alívio momentâneo em meio ao caos.
O Jardim Pantanal tem enfrentado problemas de alagamento desde o último sábado (1º) devido a chuvas recorrentes. Este distrito abriga cerca de 45 mil moradores e se localiza em uma área de várzea que se estende por nove bairros, limitada pelo Rio Tietê, que é conhecido por seu fluxo lento e sinuoso.
A área foi originalmente designada como uma Área de Proteção Ambiental (APA), inibindo construções, mas a ocupação irregular resultou em um incremento populacional significativo. Durante uma enchente em 2009, o bairro ficou submerso por mais de 20 dias.
Recentemente, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) havia prometido a construção de um pôlder, equipamento natural que visa gerenciar excessos de água, na região do Jardim Seabra, parte do mesmo distrito. Contudo, até o momento, a obra permanece não realizada. O projeto, anunciado com um orçamento de R$ 6 milhões, prometia ser entregue em um prazo de 150 dias, mas a população ainda aguarda soluções efetivas.
Para os moradores do Jardim Pantanal, a urgência por intervenções é evidente, enquanto eles continuam a enfrentar as consequências das enchentes. Abandonar suas casas por valores insignificantes não é viável para muitos, que buscam alternativas para reconstruir e permanecer em suas comunidades.