Uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta segunda-feira (28) tratou da situação de 813 famílias que residem na Favela do Moinho, a última comunidade no centro da capital paulista. O encontro, convocado pela deputada Mônica Seixas (Psol), ocorreu sem a presença de autoridades cruciais, como o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes, que não compareceram ao evento.
Na semana anterior à audiência, o governo estadual iniciou um processo de remoção progressiva dos moradores da comunidade, visando a implementação de um projeto que inclui uma estação da CPTM e um parque na área, que está situada a apenas 1 km da nova sede administrativa do governo. Dentre as 813 famílias, 513 aceitaram as opções de compensação oferecidas, que incluem um auxílio-aluguel de R$ 800, custeado em parceria entre estado e município, além de propostas de financiamento habitacional via Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
O advogado Benedito Roberto Barbosa, que representa os moradores, expressou preocupação sobre as condições das propostas de remoção, afirmando que "as condições não consideram a realidade econômica da comunidade." Ele destacou que muitos residentes não possuem a renda necessária para arcar com os financiamentos sugeridos. Durante a audiência, houve um chamado para um maior diálogo sobre alternativas habitacionais ao mesmo tempo em que a ausência de autoridades e de ministros convidados aumentou a frustração entre os participantes.
A União dos Movimentos de Moradia está pressionando por soluções que evitem a dispersão da comunidade. Um representante presente no debate ressaltou: "Queremos reassentamento na região central, não migração forçada para periferias." Apesar das críticas, o governo continua seu cronograma de remoções, enquanto organizações sociais exigem maior transparência nos critérios usados para as desocupações.
A audiência também gerou uma mobilização nas redes sociais, sendo que a cobertura visual do processo pode ser acompanhada no perfil oficial @faveladomoinho no Instagram, que tem documentado as ações em tempo real. Este espaço de discussão reafirma a importância de se ouvir as vozes das comunidades afetadas e buscar soluções que garantam direitos à moradia.
As forças que disputam o futuro da Favela do Moinho refletem um dilema mais amplo enfrentado por inúmeras comunidades urbanas no Brasil, onde o avanço de projetos de infraestrutura muitas vezes se atropela os direitos dos moradores em áreas vulneráveis.