A atual situação geopolítica está forçando os políticos da Alemanha a reconsiderar suas alianças, especialmente com os Estados Unidos. Nos últimos dias, ficou evidente que muitos deles veem os EUA como um parceiro cada vez menos confiável. O debate agora gira em torno de como financiar adequadamente as Forças Armadas alemãs.
O clima de incerteza foi acentuado após um evento na Casa Branca, onde o presidente dos EUA, Donald Trump, repreendeu abertamente o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Esta interação resultou em um afastamento preocupante das relações tradicionais entre os EUA e a Europa. Carlo Masala, cientista político da Universidade da Bundeswehr, afirmou que mais cedo ou mais tarde, os EUA não poderão mais ser considerados um aliado confiável. Para ele, a Europa terá que encontrar uma nova postura.
A analista Claudia Major, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), também expressou sua preocupação, afirmando: "Precisamos reconhecer que nosso aliado mais importante não está mais se comportando como tal, mas sim se tornando um risco para a segurança da Europa".
Este cenário ocorreu em um momento de instabilidade política na Alemanha, com as tradicionais Uniões Democrata Cristã (CDU) e Social Cristã (CSU), juntamente com o Partido Social-Democrata (SPD), tentando formar um novo governo após as eleições de 23 de fevereiro. Friedrich Merz, o presidente da CDU, se tornou um personagem central, embora ainda não tenha ocupado um cargo governamental anterior.
O atual chanceler Olaf Scholz está lidando com um governo minoritário, sentindo-se como um "pato manco" em meio às tensões internacionais. Enquanto isso, líderes como Emmanuel Macron, da França, e Keir Starmer, do Reino Unido, se destacam ao oferecer apoio à Ucrânia durante uma recente cúpula em Londres, levantando questões sobre o papel da Alemanha na nova ordem europeia.
O bate-boca em Washington trouxe à tona uma preocupação significativa: se a Alemanha não se posicionar devidamente, pode ficar à margem em um momento crucial. Merz defendeu que é vital manter o apoio à Ucrânia, mesmo em meio a essas incertezas. A recente troca de palavras entre os dois líderes destacou a necessidade de um novo entendimento sobre como financiar a defesa da Alemanha, considerando a necessidade de capacitar a Bundeswehr.
O copresidente do SPD, Lars Klingbeil, sublinhou que a Alemanha não deve ser negligenciada nesse período crítico: "O próximo governo federal terá grande responsabilidade pela política europeia. Junto com a Polônia e a França, caberá a esses três países criar estabilidade na Europa".
O impacto do conflito também é evidente nas discussões sobre financiamento da defesa. O governo está avaliando a possibilidade de obter bilhões de euros para reforçar a Bundeswehr e aumentar o apoio à Ucrânia. Merz, durante a campanha, sugeriu reformas no freio da dívida, uma posição que antes ele rejeitava categoricamente.
As propostas incluem valores de até 400 bilhões de euros, essenciais para assegurar a defesa alemã, mas que exigem mudanças constitucionais que possam ser desafiadoras de serem implementadas no Parlamento. Num cenário com o atual Bundestag, uma aliança com o Partido Verde para mudar a legislação poderia ser mais simples, embora no próximo parlamento, a presença crescente de partidos como a Alternativa para a Alemanha (AfD) e A Esquerda tornem isso mais complicado.
A urgência nas negociações é palpável. Os social-democratas cancelaram compromissos para se concentrar na formação do novo governo e soluções para garantir a defesa nacional, uma responsabilidade que historicamente recaiu sobre os EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O recente conflito entre Trump e Zelenski trouxe um novo sentido de urgência para as discussões políticas na Alemanha.
Portanto, enquanto o governo interino tenta lidar com a situação, a necessidade de um entendimento claro sobre as obrigações de defesa da Alemanha só aumenta. O futuro das relações transatlânticas e a segurança europeia dependem agora de decisões prudentes e rápidas sobre como a Alemanha irá proceder.