A ausência de uma ameaça externa e os altos custos envolvidos foram fatores determinantes para que o Brasil não desenvolvesse sua própria arma nuclear. Atualmente, apenas nove países possuem esse tipo de armamento: Estados Unidos, Rússia, França, China, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte. Essa realidade se mantém mesmo em um contexto global de crescente preocupação com o armamento nuclear.
Recentemente, o Boletim de Cientistas Atômicos atualizou seu "Relógio do Juízo Final" para 89 segundos para a meia-noite, evidenciando a gravidade das ameaças nucleares globais, incluindo conflitos e avanços nas áreas de biotecnologia e inteligência artificial. O Brasil, por sua vez, sempre teve um posicionamento cauteloso em relação ao desenvolvimento de armas nucleares.
A Guerra Fria trouxe à tona a doutrina da dissuasão nuclear, onde a posse de armas nucleares funcionava como um meio para evitar conflitos armados. Mesmo após o fim desse período, as tensões nucleares continuaram, especialmente com a recente suspensão de diálogos entre China e Estados Unidos sobre a proliferação nuclear.
Embora a ameaça de uma guerra nuclear nunca tenha sido descartada, o Brasil manteve-se fora desse cenário. Em 1998, o país firmou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, colocando-se como defensor da paz e do não desenvolvimento de armas nucleares.
Especialistas apontam que a falta de um consenso social e a ausência de ameaças externas claras são razões que levaram o Brasil a não seguir adiante com um programa de armamento nuclear. Como disse Carlo Patti, historiador da Universidade de Pádua, "O Brasil não tem arma nuclear porque não precisa".
Durante sua trajetória, o Brasil teve várias discussões sobre a construção de um arsenal nuclear, porém, estas nunca se solidificaram em ações concretas. Assim, o debate político e social continuou sem um apoio robusto para a materialização do projeto.
Um dos poucos políticos a defender abertamente a necessidade de uma bomba atômica foi Enéas Carneiro, que em sua candidatura à presidência em 1994 afirmou que a construção de armamentos nucleares era necessária para garantir a soberania nacional. No entanto, sua visão não conseguiu mobilizar apoio significativo.
Na década de 1950, enquanto o Brasil desenvolvia seu programa nuclear, havia um eufemismo utilizado para tratar do tema: a "segurança nacional". O país não participou do Tratado de Não-Proliferação Nuclear em sua concepção, mas aderiu posteriormente, quando a pressão internacional aumentou para que não houvesse desenvolvimento de armamentos nucleares.
Durante a era da ditadura militar, as decisões sobre armas nucleares foram tomadas em círculos restritos e sem transparência. Apesar de se ter indícios de projetos secretos, o governo nunca fez uma declaração afirmativa sobre a construção de uma bomba atômica.
Os programas nucleares no Brasil focaram em aspectos pacíficos, como a energia nuclear. Em série, acordos com potências como a Alemanha estimularam o desenvolvimento da tecnologia nuclear, mas sempre sob a luz da fiscalização internacional.
Apesar de não ter se inserido no grupo de países com armamento nuclear, o Brasil adquiriu expertise em produção de combustível nuclear e se tornou um dos poucos países com reservas de urânio.
Os questionamentos sobre a viabilidade do desenvolvimento de armamentos nucleares no Brasil surgiram novamente com comentários de figuras políticas em momentos de incertezas geopolíticas. Aproximadamente 25% da população apoiaria a ideia de um programa nuclear se o país fosse ameaçado por forças externas.
Desde a redemocratização do Brasil, argumentos em torno da construção de armas nucleares têm perdido espaço. O país procura ser conhecido como um defensor do desarmamento nuclear e de projetos pacíficos. Em 1990, o então presidente Fernando Collor simbolicamente enterrou os poços que poderiam ser usados para testes nucleares, reafirmando o compromisso do Brasil em manter-se afastado do armamento nuclear.
Hoje, o debate sobre a construção de armas nucleares não está presente na agenda política nacional, e pesquisas de opinião mostram uma falta de suporte significativo entre a população. A recente menção do ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores, Eduardo Bolsonaro, que abriu o tema, revela que, mesmo assim, a ideia ainda é um assunto polêmico e não amplamente aceito.
Com numerosas vozes e interesses divergentes, a questão continua a ser monitorada, mas a maioria das evidências aponta para uma permanência do Brasil em um caminho pacífico no que tange à sua política nuclear.
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