A polícia israelense realizou a invasão de duas livrarias palestinas localizadas em Jerusalém Oriental no último domingo (9). Durante a operação, as autoridades confiscaram livros e prenderam dois membros da famiglia Muna, proprietários das livrarias. Segundo relatos de familiares, os policiais foram flagrados por câmeras de segurança colocando livros em sacos plásticos enquanto danificavam o interior de uma das lojas.
De acordo com Iyad Muna, que é um dos proprietários, a situação foi bastante crítica. Ele afirmou: "Eles jogaram alguns livros no chão, mas a loja em árabe é onde ocorreu o dano material". As imagens divulgadas mostram cadernos e livros espalhados pelo chão da filial que atende em árabe, uma das duas lojas da Livraria Educacional, conhecida por sua longa história de mais de três décadas.
A polícia declarou em comunicado que as prisões foram feitas sob a suspeita de que os detidos estavam "vendendo livros contendo incitação e apoio ao terrorismo". O porta-voz da polícia enfatizou que os detetives se encarregaram da operação. O advogado de defesa, Nasser Odeh, expressou surpresa diante da extensão solicitada para a detenção, destacando que os livros mencionados tratavam de temas relacionados à história e aos direitos humanos do povo palestino.
“Os livros discutem a história palestina e não apoiam as acusações feitas contra os envolvidos”, apontou Odeh em suas declarações. Um tribunal israelense, no entanto, optou por prorrogar a detenção dos homens, inicialmente por 24 horas, somando-se a mais cinco dias de prisão domiciliar após a solicitação das autoridades.
Entre os livros confiscados, havia uma publicação infantil ilustrativa intitulada "Do Rio ao Mar", que se tornou um tópico de debate por suas conotações políticas. Enquanto alguns palestinos veem a frase como um apoio à criação de um Estado que abrace essa região, muitos israelenses interpretam-na como um chamado à eliminação do Estado de Israel.
A Livraria Educacional, fundada em 1984 na movimentada rua Salah el Dein, expandiu-se ao longo dos anos e tornou-se um importante centro cultural em Jerusalém Oriental. A loja de livros em árabe e sua respectiva filial em inglês atraem não apenas palestinos, mas também israelenses e visitantes internacionais. Uma terceira loja situada no histórico American Colony Hotel é especialmente frequentada por diplomatas e jornalistas que se hospedam na área.
Ahmad Muna, o fundador da livraria, dedicou sua vida ao ensino e à promoção da cultura, e sua trajetória inspirou a visão que seu filho, Mahmoud, tenta manter à frente dos negócios. A loja se destaca pela variedade de títulos que vão desde a história palestina até a ficção contemporânea e livros de arte.
A invasão das livrarias foi condenada por representantes de várias missões diplomáticas da União Europeia, Reino Unido e Brasil, que acompanharam a audiência no tribunal. O grupo "The Time Has Come", defensor da paz entre os povos, enfatizou a importância da livraria e de sua equipe para um futuro harmonioso em Jerusalém, ressaltando que a repressão ao negócio prejudica direitos fundamentais como a liberdade de expressão.
Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os territórios palestinos, expressou seu descontentamento com a ações das autoridades. Ela descreveu a livraria como "um farol intelectual e uma joia familiar que resiste ao apagamento palestino sob o apartheid". Albanese fez um chamado à comunidade internacional para apoiar a família Muna e proteger este importante centro cultural.
O conflito entre Israel e Palestina envolve não apenas questões territoriais, mas também culturais e históricas, e a situação atual convida à reflexão sobre a importância de espaços de liberdade de expressão e direitos iguais para todos os envolvidos. Este caso específico reflete a luta por reconhecimento e autonomia dentro de um ambiente de crescente tensão.