O retorno dos países ex-URSS ao futebol internacional

Duas ex-repúblicas soviéticas encontram no esporte, e em particular no futebol, um meio de alcançar níveis que somente conseguiram quando faziam parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A Geórgia participou da Eurocopa pela primeira vez em 2024. Já o Uzbequistão está próximo de confirmar a vaga na Copa do Mundo de 2026, feito inédito para a seleção. A equipe está na terceira fase das Eliminatórias Asiáticas, ocupando o segundo lugar do Grupo A, três pontos atrás do líder Irã. Até perder por 3 a 2 para o Catar, em novembro, o time vinha de uma sequência de 20 jogos invictos. O técnico Srecko Katanec saiu neste mês por questões de saúde, e Timur Kapadze assumiu.
“Levando em conta o curto tempo restante antes das partidas cruciais das Eliminatórias, a Associação Uzbeque de Futebol decidiu nomear Timur Kapadze, que conhece bem o time e os jogadores. Kapadze jogou pela seleção nacional por muitos anos e trabalhou como técnico principal e assistente técnico”, declarou a Associação Uzbeque de Futebol na última semana. Na Ásia, ganham vaga direta para o Mundial, os dois primeiros de cada um dos três grupos desta fase. Os terceiros e quartos colocados disputam mais jogos, em dois novos grupos, em que o vencedor de cada um se classifica. Depois, os dois segundos colocados da quarta fase se enfrentam por uma chance de jogar a repescagem contra seleções de outras confederações. O Uzbequistão ocupa a posição 58, e a Geórgia a 68. As Eliminatórias Europeias ainda não começaram para medir quais as chances dos georgianos. Atrás dos dois países, porém, estão seleções que já disputaram Copas neste século, como as asiáticas China (90º) e Coreia do Norte (115º), que jogaram 2002 e 2010; e as europeias Islândia (70º) e Bósnia (74º), participantes em 2018 e 2014.

Khusanov e sua trajetória no Manchester City

Khusanov: zagueiro uzbeque falha na estreia pelo City, mas é blindado por Guardiola. Abdukodir Khusanov foi para o Manchester City por 40 milhões de euros (mais de R$ 250 milhões). O zagueiro de apenas 20 assinou até metade de 2029. Integrante da seleção do Uzbequistão desde 2023, o defensor estreou mal no clube inglês, com uma falha que entregou um gol ao Chelsea, mas já foi blindado e elogiado pelo técnico Pep Guardiola. “Ele treinou uma vez e, então, jogou contra Nicolas Jackson e Cole Palmer e Madueke e Jadon Sancho. É um processo quando você compra um jogador tão jovem. Ele vai aprender. Esse tipo de ação é o melhor aprendizado que você pode ter”, avaliou o treinador, que revelou que Khusanov ainda não fala inglês. Ele é o primeiro uzbeque a jogar na Premier League. Peter Odemwingie, nascido no país asiático, passou West Bromwich, Cardiff e Stoke City, mas era cidadão nigeriano e atuava pela seleção da Nigéria. A paciência de Guardiola é também tranquilidade, por saber que Khusanov vai render muito mais.
O zagueiro do Uzbequistão esteve na lista de indicados ao prêmio Golden Boy de 2024, que elege o melhor jogador sub-21 do ano. Khusanov é presença constante em convocações desde as seleções de base. O zagueiro esteve também no grupo que disputou os Jogos Olímpicos de Paris-2024. O Uzbequistão, porém, perdeu duas e empatou uma, sendo eliminado na fase de grupos. “Nos últimos dois anos, cerca de mil campos desportivos modelo foram construídos em bairros onde a infraestrutura não é boa, e 400 campos desportivos foram e colocados em uso este ano”, exemplificou o ministro do esporte do Uzbequistão, Adkham Ilhamovich, que assumiu no começo de 2024. No ano passado, aliás, a delegação uzbeque nos Jogos de Paris-2024 foi recorde, com 90 atletas em 19 esportes. Eles garantiram a 13ª posição do país no quadro de medalhas, seis acima do Brasil. Foram oito ouros, duas pratas e três bronzes. O país retomou as atividades dos centros de treinamento de esportes olímpicos. Foi criado um até então inédito sistema de treinamento individual de atletas paralímpicos. Os agradecimentos ao presidente Shavkat Mirziyoyev, apenas o terceiro do país na história, mostram uma relação de paternalismo do país, que se repete no esporte. “Como resultado de sua grande atenção e cuidado com os esportes, tratando cada um de nossos atletas como seus próprios filhos e filhas e criando condições inigualáveis para eles, a delegação uzbeque pôde participar dos Jogos Olímpicos de Verão”, escreveu o Comitê Olímpico do Uzbequistão, no dia do aniversário de Mirziyoyev.

Kvaratskhelia e a evolução do futebol georgiano

Geórgia vê Kvaratskhelia como inspiração e quer elevar o futebol no país. Khvicha Kvaratskhelia, de 23 anos, é o principal jogador da Geórgia. Ele foi um dos destaques do Napoli que voltou a ser campeão italiano na temporada 2022/23, após 33 anos. Há uma semana, o PSG acertou sua compra por 70 milhões de euros (cerca de R$ 436 milhões), com contrato até 2029. O ponta foi formado no Dínamo Tbilisi, principal clube da Geórgia e único soviético a vencer um torneio europeu, além do Dínamo de Kiev. A equipe conquistou a Taça das Taças, em 1981. Recentemente, as categorias de base do Tbilisi passaram por uma reformulação, com mais foco no desenvolvimento de atletas, o que se viu também como estratégia da Federação Georgiana do Futebol (FGF). Em visita à capital da Geórgia, Gianni Infantino parabenizou o governo local. “O programa Fifa Forward apoia todos os países do mundo, mas alguns estão investindo o dinheiro de uma forma melhor do que outros, como podemos ver neste exemplo, bem como em outros projetos implementados tanto em Tbilisi quanto em todo o país”, disse o presidente da Fifa, em novembro de 2024. “O país inteiro pode ver o trabalho que a FGF está fazendo, e como o dinheiro está sendo investido não apenas no jogo profissional, mas também no futebol amador e de base. Toda criança que cresce nesta área verá esses campos e vai querer jogar futebol. Este é um grande exemplo não só para a Geórgia e a região, mas também para o mundo inteiro. Planejo trazer muitos visitantes aqui para mostrar a eles o que pode ser feito”, concluiu, com elogios sobre a possibilidade de o país receber o Mundial Sub-20. Assim como Khusavic é o primeiro uzbeque do City, Kvaratskhelia é o primeiro georgiano do PSG. A chegada dele ao clube mostra a valorização do craque de uma geração. Já são seis anos na seleção da Geórgia. Estreante na Eurocopa em 2024, a equipe georgiana colhe frutos de investimentos na formação de atletas. A seleção faz campanha regular na Liga das Nações B. As eliminatórias europeias começam em setembro para o time comandado por Willy Sagnol, ex-lateral direito francês do Bayern de Munique e da seleção da França.

A divisão das seleções pós-URSS

URSS divide seleções entre Europa e Ásia, com destaque para Uzbequistão, Ucrânia e Geórgia. Durante a Guerra Fria, soviéticos e americanos travavam disputas também no esporte, principalmente em Jogos Olímpicos. No futebol, porém, os Estados Unidos nunca tiveram o tamanho da União Soviética, cuja seleção foi campeã da Eurocopa de 1960 e levou dois ouros, em Melbourne-1956 e em Seul-1988. Em Copas, o melhor desempenho foi o quarto lugar em 1966, com sete participações ao todo, entre 1958 e 1990. Desde que a União caiu, em 1991, contudo, somente dois dos "novos" países já foram a Mundiais. A Rússia, por quatro vezes (1994, 2002, 2014 e 2018), incluindo quando sediou o torneio. A seleção russa não disputou as eliminatórias para 2022 e continua fora, como sanção da Fifa pela guerra na Ucrânia. Os ucranianos são justamente a única ex-república soviética a participar de uma Copa do Mundo além da Rússia. A Ucrânia esteve na Alemanha, em 2006, e foi até as oitavas e final.

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