BERLIM — Um marco significativo na política alemã ocorreu nesta quarta-feira (30), quando membros do Partido Social-Democrata (SPD) aprovaram, com expressivos 84,6% dos votos, o acordo de coalizão com os conservadores da CDU/CSU. A decisão encerra semanas de intensas negociações pós-eleitorais e abre caminho para que Friedrich Merz assuma o cargo de chanceler federal em 6 de maio.
A votação, que contou com a participação de 56% dos filiados do SPD, superou facilmente o mínimo exigido de 20% para validação do pleito, refletindo a pressão por estabilidade após o turbulento processo eleitoral. Na última votação, a CDU/CSU conquistou 28,5% dos votos, enquanto o SPD enfrentou seu pior desempenho histórico, com apenas 16,4% dos votos, tornando a parceria a única alternativa viável para garantir uma maioria parlamentar.
O secretário-geral do SPD, Matthias Miersch, ressaltou a "responsabilidade histórica" do partido diante de desafios prementes, incluindo a segurança global e as questões econômicas. A nova chanceler-designada pelo CDU, Friedrich Merz, já havia recebido aprovação de seu partido em uma conferência especial realizada recentemente.
O acordo será assinado formalmente na próxima segunda-feira (5) em Berlim e, em seguida, será submetido à votação no Bundestag em 6 de maio. Com a nova coalizão, a expectativa é que Merz substitua Olaf Scholz (SPD), pondo fim a um governo de esquerda que já dura 20 meses.
A nova aliança garantirá o controle de 328 das 736 cadeiras do parlamento, prometendo impulsionar reformas em áreas cruciais como energia, imigração e defesa. No entanto, analistas alertam sobre a possibilidade de divisões internas, especialmente em questões sociais e ambientais em que SPD e CDU/CSU historicamente divergem.
O novo governo enfrentará desafios significativos, herdando uma economia em recessão técnica e setores industriais pressionados por altos custos de energia e a concorrência no mercado global. Adicionalmente, a crescente tensão comercial com os EUA, exacerbação pela imposição de tarifas por Donald Trump, exige uma resposta articulada da União Europeia.
A ascensão da extrema-direita, representada pelo AfD, que se consolidou como a segunda força eleitoral em 2024, representa um desafio persistente. Tanto o SPD quanto a CDU/CSU deixaram claro que não colaborarão com a legenda.
As reações ao acordo foram variadas; líderes trabalhistas e representantes do setor empresarial saudaram o pacto como um "mal necessário" para evitar uma crise institucional. Entretanto, a ala jovem do SPD expressou preocupações sobre as concessões relacionadas ao salário mínimo e às políticas de proteção climática.
A posse de Merz, agendada para a próxima semana, ocorrerá sob um esquema de segurança rigoroso, em razão de protestos planejados por grupos ambientalistas em virtude das decisões recentes do governo.