A Justiça do Distrito Federal condenou o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) a uma indenização de R$ 200 mil por danos morais coletivos. A decisão foi emitida nesta terça-feira, 29 de abril de 2025, e é resultado de um discurso considerado transfóbico proferido pelo parlamentar durante uma sessão da Câmara em março de 2023.
No dia 8 de março de 2023, durante uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Nikolas Ferreira utilizou uma peruca amarela e se autodenominou "deputada Nikole". Em um tom sarcástico, ele fez declarações que insinuavam a substituição de mulheres por "homens que se sentem mulheres", referindo-se a pessoas trans. Essas falas foram descritas na sentença como uma "descredibilização da identidade de gênero" e como um discurso de ódio direcionado à comunidade trans.
Em consequência do discurso, organizações LGBTQIA+ moveram uma ação civil pública contra o deputado, argumentando que as declarações eram uma ultrapassagem dos limites da liberdade de expressão e promoviam estereótipos prejudiciais. A juíza Priscila Faria da Silva destacou que as palavras de Ferreira "insuflam a sociedade contra minorias", o que justificou a condenação.
A sentença proferida pela 12ª Vara Cível de Brasília não apenas determinou que os R$ 200 mil serão destinados a fundos para a defesa de direitos humanos, mas também rejeitou a tese de imunidade parlamentar, considerando que a conduta do deputado não estava vinculada à sua atividade legislativa. Anteriormente, o ministro do STF, André Mendonça, havia arquivado ações contra Nikolas, alegando imunidade constitucional, mas essa nova decisão se dá na esfera cível, apoiada por legislações como o Estatuto da Pessoa com Deficiência e a Lei Maria da Penha.
Após a condenação, Nikolas Ferreira não se manifestou publicamente, mas mantém o direito de recorrer da decisão. Especialistas em direitos humanos afirmam que esta sentença representa um fortalecimento da jurisprudência em relação à responsabilização de discursos de ódio, especialmente contra a população LGBTQIA+.
Este caso se desenrola em um ambiente político dominado por debates sobre o futuro dos direitos LGBTQIA+ no Congresso. Em 2023, Nikolas Ferreira foi o deputado mais votado do Brasil, com uma plataforma fortemente alinhada a valores conservadores, o que tem gerado polêmicas e divisões entre a população.
A defesa do deputado deverá protocolar um recurso no Tribunal de Justiça do DF. Organizações de direitos humanos celebraram a decisão como um avanço significativo no combate à transfobia institucional, sinalizando uma possível mudança na forma como discursos de ódio são tratados legalmente no Brasil.