A fundadora da The RealReal, Julie Wainwright, lançou seu livro Time to Get Real, que traz à tona os desafios enfrentados em sua carreira e as lições extraídas de momentos de crise. Publicado em abril de 2025 e respaldado por entrevistas até o final daquele mês, o memoir é uma leitura essencial para quem navega no complexo universo do empreendedorismo, especialmente em setores como o de moda e tecnologia.
Wainwright, que já havia vivido a frustração do colapso da Pets.com — um dos maiores fracassos durante a bolha das pontocom —, transformou essa adversidade em uma nova oportunidade. Ao fundar a The RealReal, a primeira plataforma de revenda de luxo recondicionado com valuation bilionário, ela desafia o estigma associado ao rótulo de 'CEO inempregável'. A obra revela também sua traumática saída da empresa, onde se deparou com conflitos de interesses entre sua visão e a do conselho de investidores.
"Nenhum fundador admite que precisa ser removido", diz ela, refletindo sobre a difícil experiência.
O livro apresenta uma crítica contundente às dinâmicas muitas vezes tóxicas das startups. Wainwright discorre sobre erros críticos na formação de equipes, como a contratação de indivíduos que prejudicaram a cultura empresarial, e enfatiza a importância de frameworks de liderança que aprendeu com consultores da McKinsey. Ela também ressalta como a prática da sustentabilidade pode ser um motor de inovação, destacando a validação rigorosa de produtos usados como um passo fundamental para a redução do desperdício na moda.
Wainwright não hesita em encarar o sexismo estrutural que permeia o mercado. Em suas páginas, ela narra a pressão enfrentada por mulheres em ambientes dominados por homens, descrevendo táticas de negociação para financiamento e estratégias para consolidar sua posição como líder. Em um setor que ainda lida com desigualdades, suas experiências oferecem um modelo de resiliência e inovação.
As críticas de Wainwright vão além da liderança e da inclusão, abordando a cultura tóxica presente em muitas startups. Ela faz alegações sérias sobre como investidores priorizaram interesses financeiros em detrimento de uma visão mais holística do negócio:
Após sua saída, Julie fundou a Ahara, uma startup focada em nutrição personalizada através de análises de DNA. A autora esclarece que seu objetivo é democratizar o acesso à saúde preventiva, assim como fez na The RealReal. "Assim como transformamos o luxo de segunda mão, queremos tornar a saúde preventiva acessível", promete Wainwright, ampliando sua visão disruptiva além da moda.
Em um tempo onde a cultura de startups está sob análise crítica, Time to Get Real surge como um importante contraponto ao paradigmático silêncio das razões por trás de falências e demissões. Com uma abordagem de transparência radical, o memoir oferece:
Ao compartilhar sua história de resiliência e adaptação, Wainwright solidifica seu papel como uma voz influente na luta contra desigualdades no ambiente corporativo, deixando um legado que transcende sua trajetória pessoal.
As experiências de Julie Wainwright são um testemunho poderoso de que, após os maiores fracassos, muitas vezes surgem as maiores inovações.