Madri, 24 de abril de 2025 – O governo espanhol tomou uma decisão significativa ao rescindir unilateralmente um contrato de 6,8 milhões de euros com a empresa israelense IMI Systems para a aquisição de munições. Esta medida, anunciada nesta quinta-feira, ocorre sob intensa pressão da coalizão de esquerda radical Sumar e é vista como uma tentativa de conter uma crise política interna, além de reforçar o embargo de armas a Israel, vigente desde outubro de 2023.
O cancelamento da compra, que visava dotar a Guarda Civil de novos suprimentos, provocou tensões agudas entre o Partido Socialista (PSOE) do primeiro-ministro Pedro Sánchez e o Sumar, liderado pela vice-primeira-ministra Yolanda Díaz. A decisão impactou diretamente a relação entre os membros da coalizão, e o contrato, que já estava publicado no Boletim Oficial do Estado, foi considerado pela esquerda como uma "violação flagrante" do compromisso de diminuir os laços militares com Israel.
As negociações entre Sánchez, Díaz e os ministérios do Interior e Defesa culminaram nesta rescisão, com fontes governamentais afirmando que todas as vias de diálogo foram exploradas antes da decisão final.
A Junta Interministerial de Regulação do Comércio Exterior de Material de Defesa (JIMDDU) negou a licença de importação das munições por "razões de interesse geral". Este ato legal possibilitou ao Ministério do Interior cancelar o contrato sem penalidades financeiras. O governo reiterou a firmeza de sua posição quanto ao embargo, afirmando que "desde 7 de outubro de 2023, a Espanha não compra nem vende armas para empresas israelenses e não o fará no futuro".
A medida surge em um contexto de críticas internacionais à ofensiva militar de Israel em Gaza, que já vitimou mais de 34 mil palestinos. Madri já se posicionou como um dos críticos mais firmes na Europa em relação às ações de Israel nos territórios ocupados.
A rescisão do contrato evita uma potencial ruptura na fragilizada coalizão governista, mas expõe as divergências existentes sobre a política externa. O PSOE busca um equilíbrio diplomático, enquanto o Sumar pressiona por um alinhamento total com organizações que apoiam a causa palestina.
O Ministério do Interior, inicialmente a favor do contrato e defendido por pareceres jurídicos, vê na reversão uma conquista da ala progressista do governo, evidenciando o poder de influência que o Sumar exerce sobre as decisões governamentais.
A Espanha tem implementado restrições crescentes ao comércio de armas com Israel desde 2021, as quais foram intensificadas após a guerra de 2023. O embargo atual inclui uma proibição sobre dispositivos de "dupla utilização" e impede transferências tecnológicas, marcando a posição de Madri como um potencial mediador no conflito, especialmente com sua presidência rotativa do Conselho da UE em 2025.
Analistas destacam que essas ações solidificam o papel da Espanha na política internacional, criando um espaço para diálogos futuros e buscando uma solução pacífica para a situação em Gaza.