Bluesky, a plataforma de mídia social descentralizada que prometia ser um espaço para a liberdade de expressão, enfrenta crescentes pressões de censura governamental, especialmente na Turquia. Esta mudança levanta questionamentos sobre a real abertura da plataforma e a resiliência das redes descentralizadas frente ao controle estatal.
Em abril de 2025, o Bluesky restringiu o acesso a 72 contas e uma postagem na Turquia a partir de demandas legais e governamentais. As autoridades turcas forçaram a plataforma a bloquear 59 contas, alegando "segurança nacional e ordem pública," enquanto o Bluesky voluntariamente impediu 13 contas adicionais e uma postagem, provavelmente sob pressão legal. Essas ações marcam uma mudança significativa para o Bluesky, que até então resistia à censura e atraía usuários que fugiam de restrições em plataformas como o X (anteriormente Twitter).
A Turquia tem intensificado seu controle sobre as plataformas digitais, exigindo conformidade rápida com pedidos de remoção de conteúdo ou enfrentando penalizações, como multas e redução de largura de banda. Esta repressão ocorre em meio a um declínio mais amplo na liberdade de imprensa no país, que ocupa a 158ª posição de 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa de 2024 da Repórteres Sem Fronteiras. O governo tem atacado cada vez mais a mídia independente e vozes dissidentes através de meios legais e regulatórios, incluindo a atuação do Conselho Supremo de Rádio e Televisão (RTÜK).
A arquitetura descentralizada do Bluesky teoricamente oferece aos usuários mais liberdade do que as plataformas centralizadas. Diferente do X, onde a moderação de conteúdo é fortemente controlada, o Bluesky permite que usuários criem e operem servidores independentes, oferecendo algumas brechas técnicas para contornar a censura. Por exemplo, usuários podem mudar suas contas entre diferentes servidores para evadir bloqueios direcionados. No entanto, o aplicativo oficial do Bluesky, que alcança a maior audiência, impõe políticas de moderação, incluindo marcadores geográficos que cumprem as exigências de censura do governo, como o recente marcador de moderação turca.
Vários usuários turcos migraram do X para o Bluesky em busca de um ambiente não censurado. As recentes medidas de censura levantaram preocupações sobre a verdadeira abertura e descentralização do Bluesky, ou se ele está se tornando semelhante a plataformas tradicionais em termos de controle de conteúdo. Embora aplicativos de terceiros construídos sobre o protocolo do Bluesky permaneçam, até o momento, isentos dessas restrições, a conformidade do aplicativo oficial com as ordens governamentais representa um desenvolvimento crítico no cenário de moderação da plataforma.
As ações de censura foram relatadas em meados de abril de 2025, com as restrições do Bluesky se tornando públicas em torno do dia 17 de abril. A repressão do governo turco sobre as mídias sociais se intensificou após a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem İmamoğlu, em março de 2025, o que provocou protestos generalizados e demandas subsequentes de censura nas redes sociais.
A censura está atualmente localizada na Turquia, mas sinaliza desafios potenciais para o Bluesky em outras regiões com controles governamentais rigorosos. A natureza descentralizada da plataforma oferece alguma resistência à censura, mas a conformidade do aplicativo oficial com demandas governamentais pode estabelecer um precedente. Usuários e observadores acompanharão de perto para ver se aplicativos de terceiros permanecem livres de tais restrições ou se pressões semelhantes se espalharão.
A interação do Bluesky com a censura governamental destaca o complexo equilíbrio entre descentralização, liberdade do usuário e conformidade regulatória. Embora a arquitetura da plataforma forneça ferramentas para contornar bloqueios, a cooperação do aplicativo oficial com as autoridades turcas marca um ponto de virada no debate em andamento sobre a liberdade de expressão e controle nos ecossistemas de mídia social.