O presidente russo Vladimir Putin participou do culto da Páscoa Ortodoxa em Moscou neste domingo, horas após anunciar um cessar-fogo temporário na Ucrânia. A trégua, que vai de 19 a 21 de abril, foi justificada por "razões humanitárias" e coincide com a maior troca de prisioneiros desde o início da invasão russa em 2022. Entretanto, a Ucrânia relatou 387 bombardeios e 19 operações de assalto russas nas primeiras horas do acordo.
O anúncio foi feito em um comunicado transmitido pelo Kremlin, onde Putin ordenou a pausa nos combates "para permitir que os cidadãos participem dos serviços religiosos". No entanto, a Defesa russa colocou como condição a reciprocidade ucraniana. Em resposta, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy afirmou que "30 horas são suficientes para manchetes, não para medidas reais de paz".
Dados do governo ucraniano apontam que, entre às 18h de sábado e meia-noite de domingo, drones russos foram usados 290 vezes contra posições defensivas na Ucrânia. Zelenskyy admitiu que, apesar da redução de ataques, houve uma diminuição real apenas em algumas áreas, reiterando sua proposta de um cessar-fogo de 30 dias.
Putin assistiu ao culto pascal na Catedral de Cristo Salvador, vestido de maneira tradicional, com traje escuro, camisa branca e gravata vermelha. Ao seu lado, o patriarca Kirill, líder da Igreja Ortodoxa Russa e defensor da guerra, enfatizou a necessidade de uma "paz justa nos territórios da histórica Rus" durante o sermão.
A participação de Putin no ritual reforça a narrativa de defender os valores cristãos contra um "Ocidente decadente", um tema central nas justificativas para a invasão. Kirill já havia caracterizado o conflito como uma "guerra metafísica" contra forças anticristãs em ocasiões anteriores.
Em um acontecimento paralelo ao anúncio do cessar-fogo, Rusia e Ucrânia realizaram a maior troca de prisioneiros desde fevereiro de 2022, com centenas de soldados repatriados. O acordo foi intermediado por terceiros, cujos nomes não foram revelados, e ocorreu em meio a negociações infrutíferas sobre a extensão do cessar-fogo.
Analistas interpretam essa troca como um gesto humanitário que visa aliviar a pressão internacional antes da reunião do G7 marcada para a próxima semana. No entanto, permanecem os ataques nas regiões de Kharkiv e Donetsk, levantando questões sobre o controle das tropas por ambos os lados.
A Casa Branca ainda não se manifestou oficialmente, mas fontes do Departamento de Estado dos Estados Unidos caracterizaram o cessar-fogo como uma "manobra midiática". A União Europeia exigiu uma verificação independente das alegações de violações, enquanto a ONU renovou os apelos por acesso humanitário às áreas cercadas.
O momento do anuncio, coincidente com a véspera da Páscoa Ortodoxa, intensificou o simbolismo religioso da medida. Entretanto, especialistas em geopolítica alertam que "trêguas temporárias raramente se transformam em diálogos substanciais sem uma mediação neutra", uma observação feita em conflitos como o da Síria.