O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, prestou depoimento por quase cinco horas à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 17 de abril de 2025, em Brasília. A investigação apura a existência de uma estrutura paralela dentro da Abin e suspeitas de espionagem ilegal durante o governo de Jair Bolsonaro. Alessandro Moretti, ex-diretor adjunto da Abin, também foi ouvido no mesmo dia.
A apuração da PF gira em torno do uso ilegal da Abin para monitorar autoridades públicas e estrangeiras, com foco especial em um caso que envolve autoridades paraguaias durante as negociações do contrato da usina hidrelétrica de Itaipu. O episódio provocou crise diplomática entre Brasil e Paraguai, após ser revelado por reportagem do Portal Uol, destacando a gravidade das denúncias.
De acordo com as investigações, há indícios de que policiais e delegados cedidos à Abin, juntamente a servidores do órgão, formaram uma organização criminosa voltada à espionagem. Os depoimentos também abordam tentativas de obstrução das apurações por parte da atual direção da Abin. Relatos sugerem que Luiz Fernando Corrêa teria proposto uma intervenção na corregedoria da agência, dificultando as investigações após uma operação de busca e apreensão ocorrida em janeiro de 2024.
Um dos aspectos centrais do inquérito é o monitoramento de autoridades paraguaias que participavam das negociações do contrato da usina de Itaipu. A PF identificou que a espionagem teve início durante o governo Bolsonaro e foi interrompida em março de 2023 pela nova direção interina da Abin, após a situação vir à tona. O Itamaraty, por sua vez, negou que o atual governo brasileiro estivesse envolvido na espionagem, esclarecendo que as ações foram iniciadas na administração anterior.
Os depoimentos de Corrêa e Moretti são vistos como uma das últimas etapas da investigação antes que a PF envie seu relatório final ao Supremo Tribunal Federal. Embora o conteúdo dos depoimentos permaneça em sigilo, a conclusão do inquérito pode levar a responsabilizações e medidas judiciais relacionadas ao uso ilegal da Abin para espionagem.
Esse caso evidencia a necessidade de controle e transparência das agências de inteligência no Brasil, à luz de acusações que ameaçam os direitos e interferem em processos democráticos e diplomáticos. A investigação sobre as práticas da Abin reforça o chamado da sociedade por maior vigilância e clareza nas ações das agências de inteligência, especialmente em tempos em que as relações diplomáticas são críticas.