Neste sábado (15), Donald Trump anunciou uma operação militar contra os Houthis, um grupo rebelde do Iémen, que é aliado do Irã. Até o momento, as autoridades confirmam a morte de pelo menos 31 pessoas em consequência dessas ações militares.
O escritório político dos Houthis caracteriza os ataques estadunidenses como um "crime de guerra" e afirma que as forças armadas do Iémen estão "totalmente preparadas para responder à escalada com escalada". Uma fonte anônima do governo dos EUA revelou à Reuters que a operação pode se estender por dias ou até semanas. A ofensiva começou após um anúncio de Trump sobre uma ação "decisiva e contundente" contra os rebeldes, com navios de guerra e aviões de combate realizando ataques em várias localidades do Iémen, focando em radares, instalações de defesa aérea e locais de lançamento de drones.
Vídeos disponíveis mostram a intensidade da operação, com um navio disparando mísseis e a explosão de um prédio como resultado dos ataques. A situação é alarmante, dado que o Ministério da Saúde que é administrado pelos Houthis já contabiliza um número significativo de vítimas.
Esses ataques acontecem em um contexto em que os Houthis haviam recentemente anunciado a retomada de suas ofensivas contra navios israelenses nos mares Vermelho e Arábico, especialmente pelo Estreito de Bab al-Mandab e pelo Golfo de Áden. Isso marca o fim de um período de relativa calmaria que se seguiu ao cessar-fogo em Gaza implementado em janeiro. Desde novembro de 2023, os Houthis realizaram mais de 100 ataques contra embarcações, justificando suas ações como uma demonstração de solidariedade aos palestinos na guerra contra Israel. Durante este período de hostilidades, o grupo conseguiu afundar dois navios, capturar um terceiro e causar a morte de pelo menos quatro marinheiros, interrompendo consideravelmente as rotas de transporte marítimo, o que obrigou diversas empresas a alterarem suas rotas, resultando em viagens mais longas e caras.
Em uma declaração em suas redes sociais, Trump acusou os Houthis de conduzir uma "campanha implacável de pirataria, violência e terrorismo contra a América e seus ativos marítimos e aéreos". O presidente americano afirmou categoricamente que o ataque ao patrimônio americano não será aceito. “Usaremos força letal esmagadora até atingirmos nosso objetivo. Se vocês não pararem, o inferno vai cair sobre vocês como nada que vocês já viram antes", destacou em sua mensagem. Além disso, Trump fez uma grave advertência ao Irã, exigindo que o apoio do país aos Houthis cesse imediatamente e ressaltando que qualquer ameaça às rotas de navegação resultará em responsabilidade e ação consequente, enfatizando "não seremos gentis sobre isso".
Os Houthis são parte do que é conhecido como "Eixo de Resistência", uma malha de grupos e movimentos que apoiam o Irã e se opõem ao Estado de Israel, incluindo o Hezbollah, o Hamas e as forças sírias do regime deposto de Bashar al-Assad. O movimento teve origem em 1990, visando combater o governo do então presidente Ali Abdullah Saleh. Desde sua fundação, liderados por Houssein al Houthi, os membros do grupo, que representam uma minoria muçulmana xiita (zaiditas), ampliaram sua influência, especialmente após a invasão do Iraque em 2003, evocando slogans como "Morte aos Estados Unidos" e "Vitória ao Islã", posicionando-se como parte da resistência liderada pelo Irã.
A guerra do Iémen teve início em 2014, quando os Houthis tomaram a capital, Sanaa, forçando o governo reconhecido internacionalmente a se retirar. A partir de 2015, a Arábia Saudita se envolveu no conflito, liderando uma coalizão militar apoiada por outras nações árabes, enquanto os EUA apoiavam essa ação com bombardeios que resultaram em devastação significativa. O conflito transcendeu para uma guerra indireta entre Arábia Saudita e Irã, cada lado com seu suporte internacional. Em um relatório de janeiro de 2023, foi revelado que armamentos fornecidos por países como o Reino Unido e os Estados Unidos eram utilizados pela coalizão de uma forma que ceifou muitas vidas durante a guerra.
Apesar do tempo, ambos os lados não conseguiram conquistar novas posições estratégicas. Os Houthis mantêm o controle sobre o norte do Iémen, incluindo Sanaa e áreas densamente povoadas, enquanto o governo e suas milícias controlam o sul e leste, onde se localizam as principais reservas de petróleo. A ONU classifica a guerra no Iémen como a mais severa crise humanitária atual, com mais de 4,5 milhões de pessoas deslocadas e 80% da população vivendo em condições de pobreza extrema. As crianças são as mais afetadas, com cerca de 11 milhões delas necessitando de assistência humanitária urgente.