A política de tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem desencadeado reações adversas em diversas nações, acentuando um sentimento antiamericano crescente. Desde vaias ao hino nacional dos EUA no Canadá até a queima de bandeiras americanas no Panamá, as medidas do presidente norte-americano têm gerado descontentamento palpável.
Trump acredita estar impulsionando uma superioridade econômica ao ameaçar aliados e parceiros comerciais com tarifas, buscando melhores condições de negociação. Seu enfoque transacional, que reforça que cada interação econômica possui um vencedor e um perdedor, privilegia o superávit e os resultados imediatos, colocando em risco relações diplomáticas de longa data.
As reações no Canadá, por exemplo, têm sido bastante expressivas. Em ambientes esportivos, torcedores passaram a vaiar o hino americano, enquanto em cardápios locais, “cafés americanos” foram rebatizados como “cafés canadianos”. Além disso, produtos norte-americanos foram removidos das prateleiras de supermercados. Para protestar, até aplicativos estão sendo desenvolvidos para ajudar os cidadãos canadenses a identificar a origem dos produtos, fomentando um possível boicote à economia dos EUA. Justin Trudeau, ex-primeiro-ministro do Canadá, comentou que as ações de Trump parecem buscar estrangular a economia canadense, criando um cenário que levanta questões sobre a autonomia do país.
No Panamá, na sequência das ameaças feitas por Trump sobre o Canal, houve manifestações que resultaram na queima de bandeiras americanas. Na Europa, a insatisfação se reflete em manifestações, como o desfile de Carnaval em Dusseldorf, na Alemanha, que apresentou bonecos infláveis de Trump e de seus atos controversos. No Reino Unido, até mesmo figuras da política conservadora não poupam críticas ao presidente dos EUA. O ex-líder da ultradireita britânica, Nigel Farage, se opôs ao vice-presidente JD Vance, afirmando que seu posicionamento sobre o apoio militar aos EUA era equivocado.
Dentro dos Estados Unidos, um clima de antiamericanismo está se fortalecendo. O jornal The Washington Post chegou a publicar um guia para orientações sobre como os americanos podem se comportar em viagens ao exterior, sugerindo vestimentas que evitem qualquer vínculo patriótico. Isto se corrobora com uma pesquisa da YouGov, que revelou uma queda drástica na percepção positiva dos EUA, principalmente na Dinamarca, onde a aceitação popular passou de 48% para apenas 20% entre agosto de 2024 e fevereiro.
O impacto negativo das políticas de Trump também é observado em sua relação com empresas americanas, como a Tesla. Elon Musk, um dos apoiadores mais notáveis do presidente, enfrenta uma queda de vendas considerável em mercados internacionais, como China, Alemanha e França. As ações da Tesla sofreram uma queda contínua, levando analistas a alertar sobre o risco de os consumidores evitarem a marca devido a seu envolvimento político.
Adrian Wooldridge, colunista da Bloomberg, argumenta que a imagem dos norte-americanos vem se deteriorando no cenário global, sendo vistos mais como agentes de divisão em vez de colaboradores. Ele tende a comparar a convivência com os EUA a dividir um quarto com adolescentes difíceis que precisam de constante atenção e não conseguem entender a complexidade das relações internacionais.
Historicamente, as políticas protecionistas, como as tarifas Smoot-Hawley implementadas na década de 1930 por Herbert Hoover, são exemplos de como tais estratégias podem exacerbar crises econômicas e levar nações a buscarem alternativas comerciais que não incluam os EUA. Um estudo recente aponta que, mesmo onde as retaliações não foram oficialmente anunciadas, as importações dos EUA caíram entre 15% e 20% em vários países.
Embora Trump tenha recuado em algumas frentes tarifárias, a percepção de que os EUA são um parceiro comercial menos confiável se consolidou entre diversas nações. O setor produtivo americano expressa preocupação sobre os danos do antiamericanismo, evidenciando que até produtores de soja pediram reconsideração sobre tarifas aplicadas à China, dia a dia formando uma aliança comercial mais sólida com países como o Brasil.
Olhando para o futuro, as relações internacionais tendem a se reconfigurar, e o espaço deixado pelos EUA pode ser rapidamente preenchido por outros países. Enquanto Trump busca agradar sua base nacional ao assumir uma postura vigorosa nas negociações, especialistas alertam que essa visão extrovertida pode resultar em um isolacionismo crescente e potencialmente danoso para a posição dos EUA no cenário global.