A Síria vive um cenário de desespero e insegurança após uma série de ataques brutais contra civis, que resultaram em mais de mil mortos desde a queda do ex-líder Bashar al-Assad. O presidente interino, Ahmed Sharaa, fez um apelo por unidade nacional em meio à escalada da violência, que tem se intensificado em áreas historicamente leais a Assad.
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR), com sede no Reino Unido, 745 civis foram mortos em ataques nas cidades costeiras de Latakia, Jableh e Banias. Além desses, cerca de 300 membros das forças de segurança e aliados de Assad também perderam a vida em confrontos violentos. Entretanto, a BBC não conseguiu confirmar esses números de maneira independente.
A situação nos bairros afetados é alarmante. Moradores relatam cenas de saques e massacres, com corpos visíveis nas ruas, enquanto muitos fugiram de suas casas. Em Hai Al Kusour, por exemplo, os relatos de habitantes revelam que o medo tomou conta, a ponto de as pessoas evitarem olhar pela janela. Quando conseguiam se conectar à internet, as informações sobre os assassinatos chegavam principalmente através do Facebook.
Ayman Fares, um dos sobreviventes, relatou que foi poupado de um ataque porque havia se manifestado contra Assad nas redes sociais. Ele descreveu a brutalidade com que os atacantes abordaram os civis em suas casas, executando famílias e deixando mulheres e crianças cobertas de sangue. “É horrível”, afirmou ele, evidenciando a gravidade da situação. Fares também notou que a situação começou a mudar com a chegada das forças de segurança do governo, que conseguiram abrir corredores de segurança e expulsar os invasores.
Outro morador, que não quis ser identificado, corroborou as informações de Fares. Ele compartilhou a experiência terrível de ouvir gritos e tiros enquanto tentava proteger sua família. “Ficávamos sabendo das mortes por postagens esporádicas no Facebook, quando conseguíamos nos conectar. Mas quando chegaram ao nosso prédio, achamos que era o fim”, relatou.
Ainda na mesma linha, é importante destacar que os combates não envolvem apenas as forças de segurança governamentais. Ghiath Dallah, um ex-general do exército de Assad, anunciou uma rebelião e está formando um novo grupo de resistência, pleiteando a criação do “Conselho Militar para a Liberação da Síria”. Isso complicou ainda mais a situação, já que muitos temem uma escalada no conflito.
Enquanto isso, a população síria enfrenta uma dura realidade, com 90% dela vivendo abaixo da linha da pobreza. Observadores alertam que essa precariedade econômica pode se transformar em terreno fértil para mais violência e descontentamento.
As divisões sectárias também são profundamente exploradas pelas facções em conflito. Os sunitas, a maioria da população síria, cometeram atrocidades durante o regime de Assad e agora muitos clamam por retaliação. No entanto, o presidente Sharaa apela à calma, tentado ao mesmo tempo assegurar a segurança e procesar aqueles que cometeram crimes durante o governo anterior.
Para que a Síria encontre um caminho para a paz duradoura, será mínimo que Sharaa consiga estabelecer uma Constituição que garanta os direitos de todos os cidadãos, independentemente de sua origem ou religião. Não obstante, a presença de combatentes estrangeiros e a incapacidade de controlar as facções violentas apresentam desafios significativos para a futura estabilidade do país.
A nova realidade síria clama por respostas e justiça. Enquanto as facções prosseguem suas ações, a população anseia por segurança e um futuro mais pacífico.