Mark Carney, de 59 anos, foi eleito líder do Partido Liberal e assumirá o cargo de primeiro-ministro do Canadá em um momento de crescentes tensões com o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, especialmente devido à guerra comercial e comentários sobre anexação.
Como ex-governador do Banco do Canadá e diretor do Banco da Inglaterra, Carney obteve impressionantes 86% dos votos em uma eleição que contou com a participação de aproximadamente 152 mil membros do Partido Liberal. Durante seu primeiro discurso após a eleição, Carney afirmou: "Quem está disposto a defender o Canadá comigo?" e enfatizou a unidade do partido ao declarar que "o Partido Liberal está unido, forte e pronto para lutar por um país ainda melhor".
A mudança de liderança ocorre em um contexto delicado, onde o Canadá enfrenta uma escalada de tensões com os EUA, alimentadas pela guerra comercial de Trump e suas declarações polêmicas sobre o Canadá. Carney entra em um mandato-tampão, pois uma eleição federal deve ser convocada até o dia 20 de outubro, podendo ser antecipada. Caso o governo não convoque novas eleições, a oposição pode pressionar a convocação por meio de uma moção de censura no Parlamento.
Mark Carney se destaca por uma carreira sólida no setor financeiro, sendo amplamente reconhecido por sua atuação durante a crise financeira de 2008. Nomeado em 2013, ele se tornou o primeiro estrangeiro a liderar o Banco da Inglaterra. Carney lançou sua candidatura em janeiro para suceder Trudeau como líder do Partido Liberal, enfrentando concorrência de figuras como Chrystia Freeland, ex-vice-primeira-ministra. Durante a trajetória política de Trudeau, Freeland foi afastada do cargo de Ministra das Finanças, mas continuou a cuidar das relações com os EUA até sua renúncia, a qual intensificou as críticas à liderança do premiê.
Apesar de sua escassa experiência política, Carney conquistou o apoio de importantes figuras liberais. Segundo analistas, sua reputação de liderança e sua experiência econômica foram fatores cruciais para sua escolha como líder do partido.
Carney não hesitou em criticar abertamente o governo Trump, especialmente em relação ao aumento do nacionalismo no Canadá e à pressão sobre políticas comerciais. As tensões entre os dois países estão elevadas, e o povo canadense demonstrou descontentamento com as propostas de Trump de transformar o Canadá no 51º estado dos EUA. Carney reiterou que o Canadá não será parte dos EUA, afirmando: "O Canadá nunca será parte dos Estados Unidos de forma alguma".
O clima de insatisfação durante o governo Trudeau, impulsionado pelo aumento do custo de vida e controvérsias em torno das políticas migratórias, contribuiu para a insatisfação da população. A crescente percepção negativa em relação a Trump se manifestou em várias ocasiões, incluindo vaias ao hino americano em eventos esportivos e o boicote a produtos dos EUA.
Em seu discurso, Carney ressaltou: "São dias sombrios, provocados por um país no qual já não podemos confiar", e sublinhou a importância da unidade dos canadenses nos desafios que estão por vir. Ele também declarou a necessidade de trabalhar juntos, enfatizando que "no comércio, como no hóquei, o Canadá vencerá".
Antes da eleição de seu sucessor, o primeiro-ministro em fim de mandato, Justin Trudeau, fez um discurso de despedida. Ele expressou orgulho pelo que foi realizado na última década e destacou a importância da luta contínua do Canadá: "O Canadá é um país que lutará quando necessário". Trudeau enfatizou que a democracia e a liberdade devem ser protegidas e ressaltou: "É preciso coragem e trabalho duro". Em sua mensagem final, pediu aos canadenses que não se fixassem apenas nas conquistas passadas, mas que vissem à frente, buscando mais progresso nos próximos anos.
Mesmo com as críticas a Trudeau, ele foi aclamatado durante o evento do partido, mostrando o ainda forte apoio interno enquanto se prepara para a nova fase política sob a liderança de Carney.