No Complexo Penitenciário de Hortolândia, situado no interior de São Paulo, as mulheres representam a maioria entre aquelas que visitam detentos. Nesse cenário, um comércio ao redor do presídio se especializou em produtos voltados para esse público, que busca facilitar o acesso e o conforto durante as visitas. Esse comércio inclui desde kits com alimentos até lingeries projetadas para passarem pelas revistas de segurança.
Os vendedores ambulantes oferecem uma variedade de produtos autorizados dentro do complexo, adaptando-se às exigências da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). Apesar de muitos homens estarem encarcerados, são as mulheres que frequentemente fazem o esforço de se deslocar para as visitações.
O g1 acompanhou uma manhã de visita em um sábado e percebeu como funciona essa dinâmica de comércio no entorno do local. Entre os produtos disponíveis para as visitantes estão:
Além de atender às necessidades das visitantes, os comerciantes também disponibilizam itens para os detentos, como:
No local, estima-se que existam 14 mil visitantes cadastrados, sendo 75% deles mulheres que se organizam para se encontrar com os detentos aos finais de semana.
Histórias reais de apoio
Além dos itens tradicionais, as pequenas lojas e barraquinhas localizadas em frente ao complexo oferecem um papel essencial de acolhimento. A comerciante Sara Diene afirma: "Vendo de tudo que entra [na prisão], pra atender tanto a família do reeducando quanto o reeducando". Aqui, as mulheres não apenas compram, mas também encontram suporte emocional e aprendizado sobre como funciona a visitação.
A visitação no Complexo Penitenciário de Hortolândia ocorre sempre nos sábados e domingos, entre 8h e 16h. As atividades comerciais começam bem antes disso, com os vendedores se preparando para atender uma demanda considerável.
A comerciante Silvana, conhecida como 'tia', também garante facilidades como o armazenamento de pertences das visitantes, em uma tentativa de oferecer um conforto adicional. "Estamos aqui todo sábado e domingo para ajudar", diz ela.
O carisma e a solidariedade que permeiam a relação entre as comerciárias e as visitantes é um reflexo da rede de suporte que se cria nesse ambiente carcerário. As mulheres compartilham não apenas produtos, mas também histórias e conselhos para enfrentar a realidade do sistema prisional.
Natália Corazza Padovani, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu-Unicamp, destaca o papel fundamental das mulheres nesta dinâmica: "O que suporta uma instituição como a penal são essas redes de cuidado que estão sempre nos entornos das prisões". Isso demonstra uma dimensão importante de cuidado, que muitas vezes passa despercebida.
Uma série especial para o Dia da Mulher
Na semana que celebra o Dia Internacional da Mulher, o g1 lança a série intitulada "Dia de visita: a solidão da mulher no cárcere", que explora as várias nuances da experiência feminina no contexto prisional. A série inclui:
Assim, o comércio ao redor do Complexo Penitenciário de Hortolândia não é apenas uma mera troca comercial, mas um espaço onde se estabelece um vínculo social, um apoio emocional e uma troca de experiências que reverberam por toda a sociedade.