Na quinta-feira, o governo anunciou a decisão de zerar a tarifa de importação de alguns alimentos, incluindo o azeite, que até então tinha uma alíquota de 9%. Essa medida visa ao benefício econômico dos consumidores brasileiros, e especialistas já discutem as possíveis consequências dessa mudança.
Economistas ouvidos pelo g1 e representantes da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva) acreditam que a medida poderá resultar em preços mais acessíveis nas prateleiras. Contudo, ainda não é possível determinar o impacto exato no valor final ao consumidor.
Apesar disso, Renato Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), aponta que a redução de preços não será diretamente atribuída à isenção do imposto, mas sim ao aumento da oferta de azeite proveniente da Europa, onde estão os principais produtores da azeitona. A Espanha, por exemplo, lidera a produção global, respondendo por 42% do total, seguida pela Itália e Grécia.
Para muitos especialistas, a mudança fiscal deve afetar o custo do azeite em função da dependência do Brasil em relação às importações. Diferentemente de produtos como açúcar e café, onde a produção interna é significativa, o azeite é amplamente importado.
Conforme mencionado por economistas, o consumidor poderá levar até dois meses para perceber os efeitos dessa isenção. A razão para isso é que os azeites disponíveis atualmente nos pontos de venda foram adquiridos antes da eliminação da tarifa.
No recente anúncio, o vice-presidente Geraldo Alckmin destacou que a nova tarifa será implementada em breve. No entanto, essa isenção pode não resultar em uma redução de 9% nos preços, já que o mercado é influenciado por outros fatores, como demanda e suprimento. Se a procura por azeite for alta, as importadoras e os supermercados podem optar por não repassar a totalidade da isenção ao consumidor.
Outros elementos, como o custo do frete e problemas climáticos adversos, podem ter um papel relevante na formação do preço. Segundo Matheus Peçanha, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), a chance de redução significativa ocorre em um mercado competitivo, onde a oferta é abundante.
Peçanha também aponta que outros tributos, como PIS, Cofins e ICMS, vão continuar a ser aplicados ao longo da cadeia de produção. Fernandes, do Ibraoliva, critica a decisão do governo de abolir o imposto, enfatizando que a redução de preços virá devido ao aumento na produção da azeitona na Europa.
Com relação ao encarecimento do azeite nos últimos meses, ele se deve às altas temperaturas e à seca que afetaram a colheita, que já tinha sido severamente impactada em 2023. Naquele ano, o calor extremo fez com que as temperaturas na Europa atingissem acima de 40°C, levando a danos nas plantações e perdas significativas na área cultivada. Após a produção de 2,2 milhões de toneladas na safra 2021/22, a produção caiu 40% na temporada seguinte, para 1,3 milhão de toneladas.
A expectativa para a colheita de azeitonas na Europa para a safra 24/25 é otimista, estimando-se que a produção alcance 3,3 milhões de toneladas. Na safra 23/24, a produção foi de 2,5 milhões de toneladas, segundo dados da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
A expectativa de colheitas melhores já se reflete no mercado internacional, onde o preço da tonelada de azeite caiu de US$ 10 mil em fevereiro de 2024 para US$ 5.500 em janeiro de 2025, conforme informações do Federal Reserve, o banco central dos EUA.
Ainda que essa redução nos preços já tenha começado a ser sentida pelo consumidor, a presidente da associação Oliva, Rita Bassi, explica que essa diminuição não foi expressiva. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE, o azeite viu um aumento de 17,24% nos 12 meses até janeiro. No entanto, no junho do ano passado, a inflação sobre o produto foi dramaticamente mais alta, chegando a 50,74%. Apesar dos sinais positivos com a safra e as medidas do governo, Bassi não acredita que o preço do azeite voltará ao patamar anterior às elevações.