A recente elevação de preços de jogos e serviços da Nintendo para a América Latina surpreendeu muitos fãs e gerou descontentamento na comunidade gamer. Jogos consagrados, como The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Super Mario Odyssey, que custavam R$ 299,00, agora estão disponíveis por R$ 349,00.
O valor do título The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, que é o mais caro do catálogo atual do Nintendo Switch, saltou de R$ 357,00 para R$ 399,00. Além disso, títulos anteriormente vendidos a R$ 249,00, como 1-2 Switch, também foram reajustados para R$ 299,00. Os cupons para compras na Nintendo Switch subiram de R$ 500,00 para R$ 579,00, evidenciando um aumento geral que dificulta ainda mais o acesso a esses jogos no Brasil.
Entretanto, o que realmente choca não é apenas o aumento de preços, mas a falta de uma estratégia de preços adequada para a América Latina. A Nintendo parece ignorar a necessidade de adaptar os preços de acordo com a realidade econômica de cada mercado, limitando-se a fazer uma conversão aproximada dos valores, desconsiderando variações e flutuações monetárias.
Ainda que a Nintendo mantenha uma política global de preços e descontos, a empresa parece desconsiderar que diferentes mercados demandam estratégias personalizadas de precificação. Isso é visível quando comparado a várias publishers que oferecem jogos com preços ajustados no Steam, por exemplo.
Um jogo com um preço elevado pode restringir o acesso a um público considerável, especialmente em mercados periféricos, onde jogos com investimentos elevados (os chamados AAA) tendem a ser inacessíveis no lançamento. A questão central da estratégia da Nintendo não são apenas os preços que agora variam entre R$300 e R$350, valores já comuns entre grandes lançamentos. O problema maior é que os preços destes jogos permanecem altos mesmo anos após seu lançamento, com promoções raras que, em sua maioria, não ultrapassam 30% de desconto.
Por exemplo, ARMS, um jogo lançado quase 8 anos atrás, também teve seu preço elevado de R$ 299,00 para R$ 349,00. O aumento não se restringe apenas aos grandes sucessos de vendas. Mesmo títulos menos populares, como 1-2 Switch, que não figuram entre os mais vendidos, passaram por reajustes similares.
A defesa de que a qualidade dos jogos justifica esses preços mantém-se questionável. Títulos reconhecidos mundialmente e com grande sucesso comercial, como GTA V, Red Dead Redemption 2 e The Witcher 3: Wild Hunt, possuem preços promocionais que caem para menos de R$ 100,00 em períodos de desconto. Por outro lado, mesmo com todos os méritos, jogos da Nintendo raramente têm seus preços reduzidos.
Por exemplo, Red Dead Redemption 2 é encontrado frequentemente por preços abaixo de R$ 100,00 em promoções, enquanto na Nintendo eShop, os títulos podem continuar a ser vendidos a valores exorbitantes como R$ 299,00.
A realidade é que a Nintendo tem em seu catálogo alguns dos melhores jogos do mercado, mas ainda assim, não adota uma política localizada de preços que beneficie os consumidores da América Latina. Além de não reduzir os preços de jogos lançados há anos, a empresa decidiu aumentar as tarifas na eShop brasileira e em outros mercados da região para proteger suas margens de lucro.
Essa estratégia resulta em um cenário onde a certeza de que os jogos da Nintendo não serão vendidos por um preço reduzido a qualquer momento desestimula novas audiências, dificultando o crescimento da base de consumidores da marca na América Latina. As promoções são escassas e quando ocorrem, raramente os descontos ultrapassam 33%, o que é considerado insuficiente para atrair novos clientes.
Recentemente, a eShop brasileira implementou promoções para celebrar o Dia do Mario, mas mesmo assim, a oferta não abrange todos os principais jogos do icônico personagem. Títulos como Super Mario Bros. Wonder e Luigi's Mansion 3 possuem descontos modestos, enquanto outros títulos clássicos, como Super Mario Odyssey, continuam a custar R$ 349,00 mesmo durante o evento promocional.
Com uma frequência tão baixa de promoção e um limite de desconto sempre abaixo de 33%, os consumidores no Brasil enfrentam dificuldades em encontrar jogos da Nintendo na faixa de preço acessível. O fim do programa de cashback da eShop, que facilitava descontos mediante a compra de jogos, apenas intensificou o problema.
Embora as políticas de preços da Nintendo possam ser menos impactantes em mercados com moedas mais fortes, na América Latina, os recentes aumentos, a escassez de promoções e a falta de adaptação de preços são indicativos claros de que a gigante japonesa não está disposta a abrir mão de suas margens de lucro para tornar seus jogos mais acessíveis. Assim, as relações entre a Nintendo e os consumidores da América Latina vão na direção da elitização contínua de um mercado já restrito.
Ao final, a tentativa de estabelecer uma presença nos eventos de jogos e a localização de alguns títulos não se traduzem em uma estratégia real para o mercado da América Latina. A disparidade crescente nos preços, a falta de promoções eficazes e a ausência de ajustes de preço indicam uma clara falta de compromisso da empresa em atender às necessidades dos consumidores locais. Sem essa mudança de abordagem, a Nintendo continuará a se distanciar de um público que valoriza suas inovações e qualidade.