Em uma reunião recente convocada pelo presidente francês Emmanuel Macron, os líderes europeus reafirmaram seu compromisso em apoiar a Ucrânia e em aumentar os gastos com defesa, uma resposta aos desafios impostos pela mudança nas políticas dos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump.
Durante a cúpula realizada em Bruxelas, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, destacou a necessidade de a Europa enfrentar sua própria corrida armamentista, afirmando: “A Europa deve enfrentar esse desafio, essa corrida armamentista. E deve vencê-la.” Ele enfatizou que a força coletiva da Europa é capaz de superar qualquer confronto militar ou econômico com a Rússia.
Muitos líderes da União Europeia (UE) expressaram apoio às propostas da Comissão Europeia, que busca proporcionar uma maior flexibilidade fiscal para os gastos em defesa e a possibilidade de emprestar até 150 bilhões de euros para que os Estados membros fortaleçam suas Forças Armadas. António Costa, presidente da reunião, declarou: “Estamos aqui para defender a Ucrânia”, enquanto recebia o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em um gesto de solidariedade.
No entanto, as décadas de dependência da proteção dos EUA tornam desafiadora a tarefa da UE de preencher o vazio deixado pelo congelamento da ajuda militar norte-americana à Ucrânia. Em 2024, Washington forneceu mais de 40% da ajuda militar destinada ao país, segundo dados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Essa realidade destaca as dificuldades que a Europa enfrenta para substituir tal apoio.
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, que está prestes a deixar o cargo, reiterou a importância do apoio estadunidense: “Devemos assegurar, com cabeça fria e sensata, que o apoio dos EUA também seja garantido nos próximos meses e anos, porque a Ucrânia também depende do apoio deles para sua defesa.” Em meio a essas discussões, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que é aliado de Trump, sinalizou que poderia vetar uma declaração unânime de apoio à Ucrânia, apesar de manifestar apoio a iniciativas que visam aumentar os gastos em defesa na Europa.
A cúpula em Bruxelas ocorre em um contexto de decisões estratégicas sobre política de defesa, impulsionadas pelo receio de que a Rússia, ao se sentir encorajada com a guerra na Ucrânia, possa atacar um dos países da UE. Emmanuel Macron expressou, em um discurso à nação na véspera da cúpula: “Quero acreditar que os Estados Unidos estarão ao nosso lado. Mas temos que estar prontos se esse não for o caso.” O presidente francês enfatizou que a Rússia representa uma ameaça para toda a Europa, o que provocou reações negativas por parte de Moscou.
Em um indicativo da seriedade da situação, Macron também mencionou que a França está disposta a discutir a extensão da proteção nuclear a seus parceiros europeus. A proposta gerou reações variadas entre os líderes do continente. O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, considerou que esse “guarda-chuva nuclear serviria como uma dissuasão realmente muito séria em relação à Rússia”. Por outro lado, outros líderes, como os da Alemanha, ressaltaram a importância de manter o envolvimento dos EUA nas questões de segurança europeias.
Essa dinâmica foi acentuada pela postura de Trump, que afirmou que a Europa deve assumir mais responsabilidade por sua própria segurança e aconselhou que os EUA não protegeriam aliados da Otan que não investissem o suficiente em defesa. Essa mudança de rumo na política americana, que passou de um forte apoio à Ucrânia para uma abordagem mais conciliatória com Moscou, gerou um grande alarme entre os países europeus, que veem a Rússia como uma das principais ameaças ao continente.
Demonstrando o nível de preocupação, partidos que estão em posição de formar o próximo governo da Alemanha concordaram, na última terça-feira (4), em suspender os limites constitucionais de empréstimos para financiar os gastos com defesa.