A indústria de casamentos envolvendo brasileiras e homens europeus é marcada por estereótipos que promitem lealdade e dedicação. Essa dinâmica atrai muitos solteiros de países desenvolvidos à busca de companheiras de vida, apresentando uma visão imparcial de mulheres do Sul Global.
Esses homens, frequentemente dispostos a deixar tudo para trás, buscam novos relacionamentos e, em alguns casos, casamentos sem sequer conhecer bem suas parceiras, muitas vezes sem falar a mesma língua.
O Brasil emergiu como um dos principais pontos focais dessa indústria, onde são oferecidas oportunidades para mulheres da América Latina, Ásia e Leste Europeu cruzarem oceanos em busca do matrimônio. Acredita-se que a mulher brasileira possua características como beleza natural e uma alegria contagiante, o que a torna uma parceira ideal para homens em busca de companheirismo.
A agência Marlu, com sede em Berlim, explica que "As mulheres brasileiras amam cuidar de um homem que lhe dê atenção e mostra que a ama!". Segundo essa visão, as brasileiras são leais e possuem uma forte orientação familiar, tornando-as altamente valorizadas neste mercado.
O funcionamento dessas agências é muitas vezes semelhante a um cardápio, onde os homens podem decidir quais mulheres desejam conhecer, tanto na Alemanha quanto no Brasil. As candidatas, frequentemente apresentadas de forma hipersexualizada, são pré-selecionadas. Somente os homens têm acesso a essa escolha, enquanto as mulheres podem optar por aceitar ou não os convites para conversas. Alguns pacotes chegam a custar até R$ 8.400.
Dados indicam que a Alemanha, o Reino Unido e os Estados Unidos são os principais interessados nesse tipo de relacionamento. Desde os anos 70, o conceito de "noivas por encomenda" ganhou força entre americanos que se sentiam insatisfeitos com novos papéis femininos. O site Golden Bride ilustra essa perspectiva, retratando as brasileiras como mulheres que costumam se bronzear nas praias, numa representação que faz parte desses estereótipos.
Com o surgimento da internet, as agências de casamentos tiveram a chance de se diversificar. Agora, diversas plataformas de relacionamento prometem casamentos, muitas vezes investindo em abordagens mais sutis. Contudo, muitos ainda utilizam modelos tradicionais de "noivas por encomenda".
Para muitas mulheres, o casamento é visto como um passaporte para uma vida melhor, longe de desafios sociais e econômicos que as atingem em seus países de origem. Os homens europeus são frequentemente percebidos como símbolos de fidelidade e segurança em comparação aos brasileiros. Essa relação cria um cenário onde as mulheres são vistas como produtos a serem selecionados e moldados conforme os desejos masculinos.
A antropóloga Thais Tiriba, que estudou este fenômeno, afirma que "a brasileira é apresentada como uma extensão do Brasil enquanto um destino paradisíaco", o que confere aos homens uma sensação de direito sobre suas escolhas.
Simone, nome fictício, teve seu primeiro contato com essa dinâmica ao criar um perfil em um site de relacionamentos brasileiro. Atraiu a atenção de um suíço durante uma viagem. Após algum tempo, ela se mudou para a Suíça, atraída pela promessa de uma vida melhor. No entanto, rapidamente percebeu que a realidade era diferente. Proibida de estudar e enfrentando isolamento, Simone sobreviveu a abusos físicos e se viu em uma situação de vulnerabilidade.
Outro caso, o de Ângela, ilustra como a expectativa de relacionamentos saudáveis pode se frustrar. Em busca de um casamento com um alemão, ela encontrou dificuldades ao lidar com um parceiro que não se mostrava disposto a cultivar um relacionamento igualitário. Ajuda para separação se tornou um desafio devido à legislação local.
Especialistas apontam que o modelo de casamento utilizado nesse mercado pode se transformar em uma porta de entrada para situações de violência. A falta de redes de apoio e de conhecimento sobre direitos locais torna as mulheres particularmente vulneráveis.
A advogada Delaine Kühn, que atua na Alemanha, alerta sobre essa questão: "É crucial considerar as alternativas antes de decidir por um casamento. Não se sabe como o outro lado irá reagir quando o casal começar a viver juntos." As agências de relacionamentos enfrentam uma crítica crescente, com muitas sendo associadas a riscos de exploração e até tráfico humano.
Apesar das advertências de especialistas e de autoridades, o setor ainda opera em uma área cinza no que se refere à regulação na União Europeia. A pesquisa sobre as manifestações presentes neste mercado é escassa, deixando as mulheres mais expostas a riscos. Ingrid Westendorp, pesquisadora da Universidade de Maastricht, enfatiza que "esta indústria coloca as mulheres em situação subordinada e vulnerável". Não obstante, as empresas operando neste mercado ainda são vistas como respeitáveis, evitando o debate sobre suas práticas prejudiciais.
Com informações adicionais da Embaixada do Brasil em Berlim, é importante ressaltar que o órgão oferece apoio jurídico e psicológico a mulheres migrantes vítimas de violência. A linha de apoio do governo é uma importante ferramenta para aquelas que necessitam de ajuda.
Essas histórias destacam a necessidade de uma reflexão crítica sobre o papel da indústria de casamentos internacionais e suas implicações sociais e judiciais. Incentivamos leitores a compartilhar suas opiniões e experiências, contribuindo para uma discussão mais ampla e informada sobre esse tema tão relevante.