O atual chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, estabeleceu diálogos com representantes de pelo menos 58 países em um período de 45 dias desde o início de sua atuação. Entretanto, o Brasil ficou de fora de suas listas de contatos, gerando preocupações entre as autoridades brasileiras. Essa análise foi divulgada pela CNN, com base em registros do Departamento de Estado dos EUA.
A lista de países que tiveram contato com Rubio abrange todos os membros do G20, exceto o Brasil e a África do Sul. Desde o retorno de Donald Trump ao cargo, o secretário de Estado se comunicou com diversas nações do continente americano, incluindo Canadá, México, Argentina, Costa Rica, El Salvador, Guiana, Jamaica, Panamá, República Dominicana e Venezuela. No caso da Venezuela, houve um diálogo específico com Edmundo González, um líder oposicionista reconhecido pelos Estados Unidos como presidente legítimo.
Em janeiro, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, enviou uma mensagem a Rubio parabenizando-o por sua nomeação, mas nenhum contato efetivo ocorreu entre os dois desde então. O Brasil foi mencionado por Trump em diversas ocasiões como parceiro comercial que impõe altas tarifas sobre produtos americanos, como o etanol.
Além dos temas comerciais, outros desentendimentos ocorreram entre o Brasil e o Departamento de Estado. Recentemente, o Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental, uma divisão do Departamento, fez críticas ao Brasil em uma postagem nas redes sociais. A mensagem afirmava: “Bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA por se recusarem a censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com os valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão.” A resposta do Itamaraty foi contundente, acusando o escritório de distorcer decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a exigência de representantes legais de grandes empresas de tecnologia no país. O ministério enfatizou na nota: “O governo brasileiro rejeita, com firmeza, qualquer tentativa de politizar decisões judiciais e ressalta a importância do respeito ao princípio republicano da independência dos poderes, contemplado na Constituição Federal brasileiro de 1988.”
Nos 45 dias de seu mandato, Marco Rubio teve contatos com líderes de diversos países nas seguintes regiões:
De acordo com fontes da diplomacia brasileira, a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, está liderando esforços para estreitar os laços com o Departamento de Estado. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores avaliou que algumas questões, como a deportação de brasileiros em situações precárias, puderam ser tratadas através de canais diplomáticos sem necessidade de um contato mais direto.
Uma esperada oportunidade de interação entre Mauro Vieira e Marco Rubio foi durante uma reunião de chanceleres em Joanesburgo, na África do Sul, em fevereiro. Entretanto, o secretário de Estado não compareceu, e a representação do governo Trump foi feita apenas pela encarregada de negócios da embaixada americana no local.
Uma análise de um diplomata consultado pela CNN sugere que a ausência de interação direta entre Brasil e Estados Unidos pode ter suas vantagens. A fonte indicou que mesmo países aliados tradicionais dos EUA, como Canadá e nações europeias, têm enfrentado um tratamento severo sob a administração Trump. Nesse sentido, ela sugere que pode ser mais vantajoso para o Brasil evitar uma atenção excessiva por parte da Casa Branca e do Departamento de Estado, em vez de buscar um contato próximo com Rubio, que poderia ser problemático.