A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou a importância de o continente europeu se preparar adequadamente para desafios futuros. "Este é o momento da Europa e devemos estar à altura dele", afirmou ao apresentar um ousado plano de 800 bilhões de euros destinado a "rearmar a Europa". Essas proposições são o foco central da cúpula de líderes da União Europeia (UE) que acontece em Bruxelas.
A urgência dessa reunião é acentuada pelo recente corte de apoio militar e financeiro dos Estados Unidos à Ucrânia, dando origem a incertezas sobre a segurança europeia. Diante desse cenário, a UE se vê obrigada a buscar maneiras de aumentar sua autossuficiência em termos de defesa.
Ursula von der Leyen não hesitou em afirmar que a situação é crítica, ressaltando em uma comunicação aos líderes que o continente enfrenta um “perigo claro e presente em uma escala que nenhum de nós viu em nossa vida adulta. O futuro de uma Ucrânia livre e soberana - de uma Europa segura e próspera - está em jogo”.
O plano, denominado ReArm Europe, tem como objetivo eliminar algumas das justificativas que os países europeus usaram para justificar orçamentos de defesa insuficientes. Para isso, von der Leyen apresentou uma proposta: se cada nação membro investisse 1,5% a mais de seu PIB em defesa, seriam gerados cerca de 650 bilhões de euros (aproximadamente R$ 4 trilhões) adicionais em investimentos militares nos próximos quatro anos.
Além disso, o projeto criaria um novo mecanismo para facilitar o acesso a 150 bilhões de euros (cerca de R$ 928 bilhões) em empréstimos garantidos pelo orçamento da UE, uma ideia que suscita controvérsias em alguns países. Esse capital poderia ser utilizado por estados membros para adquirir coletivamente equipamentos de defesa, como sistemas de defesa aérea, drones e medidas cibernéticas, minimizando a dependência dos EUA.
Um funcionário da UE, que preferiu permanecer anônimo, expressou que a expectativa é que os líderes demonstrem um forte suporte para que essas propostas avancem rapidamente, permitindo assim que a união européia fortaleça sua autodefesa.
Enquanto isso, na reunião, a Hungria e a Eslováquia revelaram sua resistência tradicional a qualquer tipo de apoio militar à Ucrânia, sendo a Eslováquia representada por seu primeiro-ministro Robert Fico, que expressou oposição através de uma carta. Contudo, há uma perspectiva otimista de que essas nações não bloqueiem as iniciativas da UE e que a prioridade seja garantir o acesso dos países ao financiamento para melhorar suas defesas.
O analista Giuseppe Spatafora, do Instituto de Estudos de Segurança da UE, sugere que, apesar das discordâncias, a probabilidade de aprovação unânime do plano é alta, já que os riscos associados à falta de investimento defensivo se tornaram alarmantes. Ele destaca que a disposição para aumentar o consenso pode ser facilitada pela variedade de opções de financiamento incluídas na proposta.
Nos últimos dias, países como Suécia e Alemanha, que mostraram hesitação em aceitar um papel mais ativo da UE em questões de defesa, mostraram sinais de mudança. Calle Hakansson, pesquisador da Agência Sueca de Pesquisa em Defesa, notou um aumento na urgência e disposição da Suécia para apoiar o pacote ReArm. O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, expressou total apoio ao plano, o que foi reforçado por uma reavaliação similar em nações como Finlândia, Dinamarca e Alemanha.
Aliás, a Alemanha está se preparando para um novo governo liderado por Friedrich Merz, que já anunciou que, assim que assumir o cargo, pretende aumentar os investimentos em defesa, com uma promessa de disponibilizar 500 bilhões de euros (aproximadamente R$ 3,1 trilhões) adicionais para essa área.
Durante um a reunião anterior em Londres, Ursula von der Leyen sublinhou sua intenção de apoiar a Ucrânia de tal maneira que o país se torne um "porco-espinho de aço", resistente a ataques externos. Se os países da UE utilizarem adequadamente as novas ferramentas propostas, o bloco pode reforçar significativamente sua defesa.
Entretanto, um diplomata da UE alertou que, apesar das promessas, é provável que os novos esforços não sejam suficientes para garantir a segurança a longo prazo. Contudo, em geral, a recepção ao pacote ReArm Europe foi positiva, com muitos líderes reconhecendo o potencial transformador das iniciativas propostas.
Um importante funcionário da UE enfatizou a relevância do ReArm Europe para o futuro da defesa europeia, afirmando que “esta é uma virada de página” e que estamos próximos de iniciar um novo capítulo intitulado 'Europa da defesa'.