O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (04) a aplicação de tarifas de 25% sobre importações provenientes do Canadá e do México, além de dobrar a alíquota para 20% sobre os produtos chineses. Essa medida desencadeou uma onda de retaliações que afeta as economias globais, aprofundando uma guerra comercial já existente.
As novas tarifas impostas abrangem aproximadamente US$ 1,5 trilhão em importações anuais, evidenciando o compromisso de Trump em gerar receitas e fomentar a criação de empregos na indústria americana, mesmo que isso signifique impactar negativamente as economias dos países envolvidos.
A resposta da China foi imediata, com a imposição de tarifas de até 15% principalmente sobre produtos agrícolas norte-americanos e um aumento no número de empresas dos EUA sujeitas a controles de exportação.
O Canadá também se posicionou de forma assertiva, implementando tarifas gradativas sobre US$ 107 bilhões em produtos americanos ao longo de um período de 21 dias. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que está prestes a deixar o cargo, criticou a movimentação de Trump, alegando que “lançar uma guerra comercial é uma coisa muito idiota a se fazer”. Segundo ele, a intenção de Trump é ver o colapso da economia canadense, o que facilitaria a anexação do país.
Com a prolongação dessa crise tarifária, há previsão de que a economia canadense entre em retração, a primeira desde o início da pandemia de covid-19. Analistas afirmam que as tarifas podem impactar o crescimento do PIB canadense em até 4 pontos percentuais. Ademais, o governo dos EUA já havia implementado tarifas de 10% sobre o setor energético canadense.
A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, anunciou que seu governo irá divulgar uma resposta, incluindo tarifas, até o próximo domingo. Ela enfatizou que o México manterá uma postura de calma e buscará soluções por meio da negociação, alertando que os custos dessas tarifas acabarão sendo arcados pelos consumidores e empresas americanas.
As movimentações de Trump ocorrem em um momento crítico, logo antes de seu discurso no Congresso, onde discutir suas prioridades para o segundo mandato. A confirmação dessas tarifas fortaleceu a ideia de que Trump está determinado a remodelar os laços comerciais dos EUA num contexto cada vez mais protecionista.
Trump abandona assim as diretrizes de livre comércio que vigoraram por décadas, argumentando que o comércio aberto retirou milhões de empregos das fábricas americanas. Ele defende que a aplicação de tarifas é o caminho para a prosperidade do país, ignorando as previsões de economistas que alertam sobre as consequências negativas desse protecionismo.
Os mercados responderam negativamente na última terça-feira, com o S&P 500 caindo 2%, revertendo ganhos anteriores. “Estamos em uma nova era em que o foco está na proteção dos mercados”, afirmou Alicia Garcia Herrero, economista-chefe da Ásia-Pacífico da Natixis.
Enquanto isso, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, minimizou o impacto imediato no mercado, afirmando que o foco do governo reside nas pequenas empresas e nos consumidores.
De acordo com Douglas Irwin, economista da Dartmouth College, as tarifas médias aplicadas pelos EUA saltaram de 2,4% para 10,5%, o maior nível desde a década de 1940. Já o Budget Lab da Universidade Yale estima que essas tarifas podem equivaler a um aumento de impostos que alcançará entre US$ 1,4 trilhão e US$ 1,5 trilhões ao longo de uma década, resultando em um ônus adicional de até US$ 2.000 para as famílias americanas.
Trump ainda sugere que novas tarifas devem ser implementadas, incluindo taxas recíprocas sobre todos os parceiros comerciais que mantêm tarifas sobre produtos americanos. Impostos setoriais de 25% sobre veículos, semicondutores e produtos farmacêuticos também estão em discussão. Além disso, tarifas sobre importações da União Europeia estão nas pautas, com investigações referentes a cobre e madeira sendo ordenadas.
O porta-voz da Comissão Europeia, Olof Gill, expressou preocupação com as novas tarifas, alertando que elas podem desestabilizar o comércio global e atingirem cadeias de suprimento já interligadas. As consequências dessas decisões podem resultar em incertezas econômicas tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.