A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) anunciou, na segunda-feira, 3, um aumento na produção de petróleo, prevendo um impacto nas cotações da commodity até 2026. Especialistas projetam que o preço médio do barril de petróleo Brent deve se situar em torno de US$ 70 neste ano.
Esse movimento de aumento na oferta global de petróleo, especialmente com a recuperação gradual das exportações da Rússia a partir do segundo trimestre, pode resultar em uma queda nos preços, devido ao desaceleramento da demanda global, fortemente afetada pelas tarifas que os Estados Unidos impuseram a produtos importados.
Em sua declaração, a Opep+ indicou que a decisão de aumentar a produção em 2,2 milhões de barris por dia (cerca de 2% da demanda global) até 2026 foi fundamentada em “fundamentos de mercado saudáveis”. Contudo, o grupo ressaltou que essa produção extra poderia ser ajustada se necessário.
A reação imediata do mercado ao anúncio foi uma queda nos preços do petróleo, que atingiram o menor valor do ano: US$ 68,37 por barril, apresentando uma diminuição de 2%. Esse cenário é particularmente positivo para o ex-presidente Donald Trump, que havia pressionado por uma queda nos preços da commodity, tornando viável a perfuração de poços nos Estados Unidos, onde geralmente a extração se torna lucrativa quando o barril é vendido por valores acima de US$ 60.
Segundo Kim Fustier, chefe de pesquisas de petróleo e gás do HSBC na Europa, a média dos preços do barril do Brent deverá ser US$ 70 no quarto trimestre. Essa diminuição reflete um aumento na produção total, que passa de 102,6 milhões de barris por dia em 2024 para 103,9 milhões neste ano, ao passo que a demanda global avançará a um ritmo mais lento, de 102,8 milhões para 103,8 milhões de barris por dia.
As tarifas impostas pelos EUA estão projetadas para desacelerar as atividades econômicas em vários países, o que pode repercutir na diminuição da demanda global por petróleo. O analista Eric Lee, do Citi, expressou preocupações: “Há um grande risco de guerras comerciais. Tarifas gerais podem impactar o crescimento global, o comércio internacional e a demanda pela commodity.” O banco prevê ainda que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA verá uma queda de 2,8% em 2024 para 1,5% neste ano.
Além disso, as tarifas sobre o aço importado podem disparar custos para a indústria de petróleo e gás natural nos Estados Unidos, refletindo em preços elevados dos derivados para os consumidores. É estimado que os preços do barril do Brent poderão cair de US$ 68 no segundo trimestre para US$ 60 entre outubro e dezembro.
Desde o início do ano, o governo dos EUA já implementou tarifas de 20% sobre importações da China. As novas taxas de 25% sobre o aço de diversos países entrarão em vigor em março, e o presidente Trump planeja aplicar uma tarifa de 25% sobre automóveis importados, a ser implementada no início de abril.
Essas políticas comerciais afetam diretamente a produção industrial na Europa e na China, o que pode impactar a demanda global por gasolina e diesel. Joel Hancock, analista de petróleo do Natixis, explicou: “A redução na atividade das fábricas em mercados como esses afetará a renda real dos consumidores, resultando em menor consumo de gasolina.”
As tarifas sobre os produtos importados poderão contribuir para uma elevação na inflação nos EUA e, consequentemente, na diminuição da demanda por derivados de petróleo. Hancock observa que “o consumo de gasolina nos EUA representa 10% de toda a demanda global; qualquer impacto significativo neste mercado pode reverberar na demanda mundial por petróleo”.
Para o Natixis, a expectativa é que o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) registre uma ligeira diminuição, de 2,9% em 2024 para 2,6% neste ano, o que pode levar o Federal Reserve a uma expectativa de corte nas taxas de juros em setembro e dezembro.
A tendência de queda na demanda global por petróleo, face à oferta crescente, também se deve aos desafios econômicos que a China enfrenta, que tendem a ser ampliados devido às tarifas impostas pelos EUA. Jim Burkhard, vice-presidente da S&P Global Commodity Insights, destaca: “As tarifas criam incertezas, especialmente em relação aos investimentos em novas fábricas na China, que agora se tornaram mais arriscados e podem se revelar prejudiciais à economia do país a curto prazo.”