A China anunciou a suspensão das licenças de importação de soja de três empresas norte-americanas, além de interromper a importação de madeira serrada dos EUA. As ações ocorreram em resposta às tarifas adicionais estabelecidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Na mesma data, o governo chinês impôs tarifas de importação que somam US$ 21 bilhões (equivalente a R$ 124,2 bilhões) sobre produtos agrícolas e alimentícios dos EUA. Essa lista inclui itens como soja, trigo, carne e algodão.
As empresas afetadas pela suspensão das licenças são a cooperativa CHS Inc, a Louis Dreyfus Company Grains Merchandising LLC e a EGT, que é uma operadora de terminais de exportação de grãos. Segundo o comunicado da alfândega chinesa, a medida foi tomada devido à detecção de contaminações, incluindo cravagem e agentes de revestimento de sementes presentes na soja importada.
Além disso, a suspensão das importações de madeira serrada ocorreu após a identificação de pragas, como pequenos vermes e aspergillus. Os representantes das empresas afetadas não se pronunciaram imediatamente sobre as novas determinações.
Essas medidas de retaliação por parte da China surgem em resposta a uma nova tarifa de 10% anunciada por Trump, que elevou a carga tributária total para importações chinesas para 20%. Tal medida se dá em meio a uma insistência da Casa Branca sobre a inação da China em combater o fluxo de drogas para os EUA.
É importante mencionar que o mercado chinês absorve cerca da metade das exportações de soja dos EUA, totalizando quase US$ 12,8 bilhões (R$ 75,71 bilhões) em negociações realizadas em 2024, conforme dados do US Census Bureau.
A restrição também se estende à madeira serrada, que representa uma parte significativa das exportações forestais dos Estados Unidos. Em 2024, a China importa cerca de US$ 850 milhões (R$ 5,03 bilhões) em produtos de madeira dos EUA, tornando-se o terceiro maior cliente desse segmento.
As novas tarifas imposta pelo governo chinês ainda incluem um acréscimo de 15% sobre frango, trigo, milho e algodão, além de um adicional de 10% sobre soja, sorgo, carne suína, carne bovina, frutos do mar, frutas e legumes, com vigência a partir de 10 de março.
A proibição de importação para as três empresas de soja, aliada ao aumento das tarifas, tornará ainda mais difícil a compra do produto na China, enquanto o governo também impôs restrições sobre as exportações e investimentos de 25 companhias norte-americanas, citando questões de segurança nacional.
Embora tenha decidido evitar punir grandes nomes do setor, a China posicionou-se de forma firme em suas críticas, afirmando que a pressão americana é um erro estratégico. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores disse: "Tentar exercer uma pressão extrema sobre a China é um erro de cálculo e um erro".
Pequim reforçou que possui políticas antidrogas rigorosas, contestando as acusações de "chantagem" por parte da Casa Branca. Segundo analistas, o governo chinês parece estar disposto a manter negociações em busca de um acordo, evitando aumentos significativos nas tarifas que poderiam gerar uma escalada completa no conflito comercial.
Even Pay, analista da Trivium China, pontuou que "o governo da China está sinalizando que não quer aumentar a escalada". Ele acrescentou que essas recentemente adotadas podem muito bem ser os primeiros movimentos da nova fase da Guerra Comercial entre os dois países.
Os mercados futuros chineses mostraram estabilidade em meio às notícias, e os preços do farelo de soja e do farelo de colza aumentaram em 2,5% após a divulgação de que a China está visando as exportações agrícolas dos Estados Unidos.
É importante destacar que essa guerra comercial pode abrir espaço para que outros países colham benefícios. Desde a implementação das tarifas no primeiro mandato de Trump, a China tem buscado diminuir sua dependência de produtos agrícolas dos EUA, ampliando a produção interna e buscando alternativas no Brasil e em outros fornecedores.
Os exportadores norte-americanos também podem redirecionar seus produtos para outros mercados, como Sudeste Asiático, África e Índia. Segundo Dennis Voznesenki, do Commonwealth Bank, "as tarifas chinesas sobre as importações de trigo e milho dos EUA devem apoiar a demanda pelas exportações australianas de trigo e milho".