A recente confirmação de um aumento significativo nos gastos com defesa da Alemanha é um reflexo das atuais preocupações geopolíticas. Em meio a negociações para formar uma nova coalizão governamental, a CDU (União Democrata Cristã) e o SPD (Partido Social Democrata) concordaram em estabelecer um fundo especial que possibilite elevar o orçamento destinado à defesa, sem as restrições do "freio da dívida".
O anúncio, feito pelo futuro chanceler Friedrich Merz, ocorre em um contexto de temor sobre o possível distanciamento dos Estados Unidos em relação a seus aliados europeus. O objetivo é levantar centenas de bilhões de euros para aumentar os investimentos em defesa e infraestrutura, com o intuito de assegurar uma resposta robusta às novas dinâmicas políticas internacionais.
As conversas para a formação do novo governo, que envolvem a CDU de Merz e a CSU (União Social Cristã) na Baviera, bem como o SPD de Olaf Scholz, visam promover uma reforma abrangente nas leis que regulam os gastos públicos. A proposta inclui a apresentação de uma moção ao Bundestag (Parlamento alemão) para modificar a Constituição e eliminar as limitações que restringem investimentos em defesa a 1% do PIB nacional.
De acordo com as estimativas, essa mudança permitirá a utilização de aproximadamente 45 bilhões de euros adicionais acima do que já é previsto. Ademais, os 16 estados da Alemanha terão liberdade para contrair empréstimos de até 0,35% de suas respectivas produções econômicas, para aperfeiçoar seus investimentos e desempenho econômico.
Merz, ao lado de outros líderes como Markus Söder da CSU e os co-líderes do SPD, Lars Klingbeil e Saskia Esken, enfatizou a urgência da situação dizendo: "Estamos cientes da escala das tarefas que temos pela frente e queremos dar os primeiros passos e decisões necessárias". Ele destacou a ameaça à liberdade e à paz continental, defendendo um enfoque de defesa que tenha como lema: "custe o que custar". Segundo Söder, este sinal reafirma a presença e a determinação da Alemanha na cena internacional. "A Alemanha não recuará", afirmou.
Merz ressaltou que um aumento nos gastos com defesa só será sustentável se a economia nacional retomar um caminho de crescimento sólido. Isso demandará, além de condições competitivas aprimoradas, investimentos robustos e duradouros na infraestrutura do país. Como essas melhorias não podem ser apenas financiadas pelo orçamento federal, foi acordado um novo fundo especial de 500 bilhões de euros voltado para investimentos industriais e de infraestrutura, que poderá trazer oxigênio à economia debilitada da Alemanha na próxima década.
Klingbeil, líder do SPD, comentou sobre a importância do projeto: "Estamos finalmente acabando com o congestionamento de investimentos em nosso país". Ele ainda mencionou que a revisão do freio constitucional da dívida acontecerá até o final do ano, a fim de evitar que este dispositivo se transforme em um obstáculo ao investimento. Ambas as propostas – sobre a ampliação dos gastos com defesa e o novo fundo estrutural – devem ser submetidas ao parlamento antes do término da atual legislatura, com a expectativa de obter o apoio dos partidos Verdes e do FDP (Partido dos Liberais) para assegurar a maioria necessária.
A Alemanha busca ficar à frente das mudanças na política externa dos EUA, especialmente sob a administração de Donald Trump. As iniciativas de Berlim visam demonstrar sua capacidade de ação proativa em um momento em que os Estados-membros da União Europeia se reúnem para discutir essas mudanças. Merz comentou: "Contamos que os Estados Unidos cumpram nossos compromissos mútuos na aliança também no futuro". No entanto, ele também reforçou que é essencial ampliar os fundos para a defesa do país e da aliança atlântica nesse novo cenário.
Além disso, Merz indicou a urgência em discutir um pacote de ajuda de 3 bilhões de euros destinado à Ucrânia, que está paralisado no Bundestag há semanas. Ele planeja se reunir com o chanceler Olaf Scholz para tratar da avaliação de ajuda pronta, incluindo valores que podem ser liberados imediatamente fora do orçamento federal. Enquanto isso, as partes seguem as discussões para firmar uma base comum em temas como orçamento, migração, competitividade econômica e segurança, com Merz afirmando que o objetivo é "concluir as consultas prontamente", embora tenha alertado que isso pode levar mais tempo do que o esperado.