No último evento em Santos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou a importância da colaboração com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmando que ele está "fazendo história" nas parcerias estabelecidas entre os dois. A ocasião marcou o lançamento do edital para o projeto de construção de um túnel que ligará Santos a Guarujá, com um investimento de R$ 6 bilhões, divisão que será compartilhada entre os governos federal e estadual.
Durante sua fala, Tarcísio expressou gratidão a Lula pela cooperação que abriu portas para a realização desse empreendimento, mas mesmo assim, enfrentou vaias frequentes de uma plateia na qual predominavam os apoiadores do presidente. O evento, organizado pela administração federal, também foi palco de críticas contra Jair Bolsonaro (PL), padrinho político do governador, proferidas por membros do governo, incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
"Tarcísio, você está fazendo história nessas parcerias que estamos construindo. Pode ficar certo que o povo compreende o que está acontecendo. Tem gente do lado do Tarcísio que não gosta de vê-lo do meu lado e vice-versa. Nós só temos um lado: o do povo", ressaltou Lula durante seu discurso. O presidente ainda fez menção à sua recente convivência com Tarcísio, ao relatar um almoço entre os dois, insinuando que isso poderia incomodar seus adversários.
Além de anunciar o projeto do túnel, os dois líderes discutiram questões de moradia, com Lula propondo um esforço conjunto para erradicar as palafitas na Baixada Santista. Apesar de Tarcísio ser alvo de gritos de "sem anistia" durante seu discurso — uma referência ao assunto delicado da anistia a participantes dos atos de 8 de janeiro —, ele optou por reforçar a sintonia com o presidente, ressaltando a prioridade do projeto do túnel.
Os protestos de "sem anistia" foram intensificados durante a fala do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PE), que afirmou buscar a mesma harmonia demonstrada entre Lula e Tarcísio nas pautas do legislativo. "Nosso povo cansou de conflitos; não aguenta mais radicalismo", disse o deputado, enfatizando a necessidade de unir forças pela população.
O evento, embora marcado por tentativas de transmitir uma imagem de colaboração, também teve seus momentos desconfortáveis. Alckmin destacou o contraste entre a abordagem de Lula em favor do diálogo e as ações extremas de adversários, enquanto o ministro Rui Costa (PT) frisou a importância da democracia frente aos recentes desafios à ordem pública, atribuindo a tentativa de golpe ao governo anterior.
A declaração da Procuradoria-Geral da República, que denunciou Bolsonaro por liderar uma organização criminosa na tentativa de desestabilizar a democracia, também gerou repercussão. Esta acusação foi considerada por Tarcísio como "revanchismo" e uma "forçação de barra" por parte da oposição.
Rui Costa ainda aproveitou a oportunidade para criticar gestões passadas, especialmente a condução das parcerias que Tarcísio, como ex-ministro da Infraestrutura, não conseguiu implementar em sua época de governo. Em una nota mais favorável, o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), elogiou a união entre os governos, mas não poupou críticas ao projeto de privatização do Porto de Santos, defendido por Tarcísio anteriormente.
A execução do túnel imerso promete revolucionar a ligação entre as duas cidades do litoral paulista, reduzindo o tempo de deslocamento, que atualmente é de 43 quilômetros ou cerca de 20 minutos de balsa, para menos de dois minutos. O leilão do projeto está agendado para agosto, com início das obras previsto para 2026 e conclusão em cinco anos.