A eleição de Gilberto Nascimento (PSD-SP) como novo presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional, que recebeu 117 votos, foi marcada por uma grande estratégia alineada ao pastor Silas Malafaia. Nascimento superou Otoni de Paula (MDB-RJ), um nome considerado próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que obteve 61 votos.
O evento ocorreu em um momento crucial, refletindo divisões significativas dentro da bancada evangélica. A vitória de Nascimento foi resultado de uma articulação envolvendo Malafaia, que, em uma ligação estratégica, mobilizou Robson Lemos Rodovalho, ex-deputado e atual presidente da Fundação Neopentecostal Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra. Esse movimento foi essencial para evitar que Otoni de Paula conseguisse se eleger, visto que sua vitória poderia intensificar a aproximação entre a administração de Lula e a comunidade evangélica.
“Liguei para Robson Rodovalho e disse: ‘Robson, nós não podemos deixar um cara que vai ser instrumento do governo Lula ganhar a Frente. Pede para a deputada que é membro da sua igreja desistir’”, declarou Malafaia à CNN. Segundo ele, essa estratégia foi fundamental para determinar o resultado da eleição.
A deputada mencionada por Malafaia é Greyce Elias (Avante-MG), que tentou se posicionar como líder, mas acabou não indo adiante após a movimentação do pastor. “O nome foi tirado e acabou a festa”, resumiu Malafaia sobre a situação que precedeu a votação.
O próprio Otoni de Paula, ao comentar o resultado, atribuiu a influência decisiva a Bolsonaro, que teve papel relevante ao entrar no jogo político. “Minha avaliação é que não fiz uma disputa com Gilberto, que é meu irmão e amigo, mas fiz uma disputa com Bolsonaro. Quando Bolsonaro entrou em campo, isso, obviamente – sem tirar o mérito do Gilberto – foi o que realmente pesou”, afirmou Otoni, destacando que sua candidatura refletia a tensão e os desafios do grupo.
Apesar da derrota, Otoni de Paula enfatizou que não se considera inimigo de Bolsonaro e que não tem a intenção de se alinhar com o que chama de 'lulopetismo'. “Quero aproveitar que Bolsonaro me elegeu como adversário e vou continuar na minha marcha para dizer que a igreja não é de Lula, de Bolsonaro, do PT ou do PL”, afirmou, reafirmando sua posição independente.
É importante destacar que essa disputa representa não apenas uma luta política, mas também um embate religioso e fluminense, dado que tanto Malafaia quanto Otoni fazem parte da mesma igreja, a Assembleia de Deus. A divisão e os interesses pessoais dentro da bancada evangélica revelam uma complexidade que vai além da política partidária, refletindo a necessidade de diálogo e a busca por novos espaços de poder entre os religiosos no contexto brasileiro.
A eleição de Gilberto Nascimento para a presidência da Frente Parlamentar Evangélica não se resume apenas à contagem de votos, mas sim a um claro sinal de onde a bancada evangélica poderá se posicionar nos próximos anos, especialmente em tempos de crescente polarização política.