O presidente Donald Trump está prestes a assinar um memorando que pode permitir a imposição de tarifas para contrabalançar os impostos sobre serviços digitais aplicados por alguns países às gigantes da tecnologia dos Estados Unidos. De acordo com informações de fontes que preferiram permanecer anônimas, essa iniciativa se insere na tendência de Trump de aumentar a pressão sobre o comércio global e corrigir desequilíbrios econômicos. O documento orienta o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) a desenvolver medidas contra impostos que afetam empresas como a Alphabet e a Meta.
No entanto, é importante notar que esta medida não estabelece tarifas de imediato, nem define um cronograma para sua implementação. A questão dos impostos digitais é uma preocupação persistente para Trump, que desde seu primeiro mandato tem se manifestado sobre o tema. Em 2019, o USTR iniciou investigações sobre os sistemas tributários de países como França, Itália, Espanha e Índia, constatando que suas taxas prejudicavam desproporcionalmente as empresas americanas.
Alguns países, na esteira dessas investigações, abandonaram seus planos de tributação digital e se engajaram em discussões para um imposto mínimo global voltado para o setor de tecnologia. Contudo, tais negociações enfrentam adiamentos constantes. Segundo a Computer and Communications Industry Association, aproximadamente 30 países já implementaram ou estão considerando implementar impostos sobre serviços digitais, incluindo aliados comerciais dos EUA, como Reino Unido e Canadá.
No Canadá, uma taxa entrou em vigor em 2024, enquanto as políticas de Trump se desenrolam em um momento em que o presidente francês Emmanuel Macron, que defende um imposto digital que afeta as multinacionais americanas, está prestes a visitar os EUA. Recentemente, o ministro das Finanças da França reafirmou a intenção de manter essa cobrança, que foi uma das pioneiras no mundo. Um acordo negociado com os Estados Unidos previa a suspensão do imposto, condicionado à criação de novas regras globais de tributação, mas essas negociações ainda não foram concluídas.
A retaliação americana contra os impostos digitais, assim, pode intensificar as já problemáticas relações entre os EUA e países europeus, que não concordam com a abordagem de Trump em relação à guerra na Ucrânia, especialmente considerando seu foco em negociações diretas com o presidente russo Vladimir Putin. Trump e seus apoiadores frequentemente criticam as práticas comerciais da Europa e as regulamentações fiscais que, segundo eles, impactam negativamente as empresas americanas de tecnologia.
Além disso, os planos tarifários de Trump exemplificam o uso de tarifas como uma estratégia para reformular o comércio global e induzir as empresas a transferirem sua produção para os Estados Unidos. Até o momento, o presidente já implementou tarifas globais de 10% sobre as importações da China e, em outros momentos, impôs tarifas sobre produtos do Canadá e México, além de aço e alumínio. Trump também anunciou que tarifas adicionais sobre automóveis, semicondutores e medicamentos estão por vir.
Desde que Trump iniciou seu segundo mandato, líderes de grandes empresas de tecnologia têm buscado uma relação mais próxima com o presidente. Vários CEOs se reuniram com ele em sua propriedade em Mar-a-Lago durante a transição e assistiram à sua posse. Trump se comprometeu a combater políticas internacionais que, em sua visão, desfavorecem as big techs.
No entanto, as tarifições propostas podem ter consequências adversas para essas empresas, que se baseiam em cadeias de suprimentos globais. A situação continua a evoluir, e será crucial observar os desdobramentos dessas novas medidas e seu impacto nas relações comerciais internacionais.