Seis militares do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Pirassununga, em São Paulo, foram expulsos do Exército Brasileiro após a confirmação de agressões e torturas a um soldado. O caso foi oficialmente informado ao portal Terra pelo Comando Militar do Sudeste.
Segundo o advogado da vítima, Pablo Canhadas, os abusos ocorreram no dia 16 de janeiro, logo após a formatura do rancho, um ritual diário de distribuição de tarefas.
No incidente, o cabo responsável inicialmente designou a vítima e outros soldados para a limpeza de uma área. Contudo, soldados mais antigos mudaram a ordem, obrigando o soldado agredido a se dirigir à Câmara Fria 3. Ao chegar lá, ele foi confrontado por dois militares armados com um cabo de vassourão, que o ameaçaram: "Ou vai por bem ou vai por mal". O soldado, nesse momento, acreditou que seria submetido a um "batismo", uma prática comum entre os militares, mas expressamente proibida pelo Exército.
Apesar de recusar participar da situação, a vítima foi forçada a obedecer e acabou sendo agredida. Os agressões incluíram golpes com o cabo de vassourão e a humilhação física. Os soldados chegaram a esfregar o cabo entre as nádegas da vítima e a golpear diversas partes do corpo até que o objeto se quebrasse. A violência era tão intensa que o soldado gritou por socorro, o que fez com que os militares parassem temporariamente.
Infelizmente, a liberdade do soldado foi curta, pois ele foi capturado novamente. Dessa vez, as agressões foram ainda mais violentas, com dois militares segurando-o enquanto outros o golpeavam com diferentes objetos, incluindo um remo e ripas de paletes. Este novo episódio de agressão durou aproximadamente 30 minutos.
Após conseguir se afastar dos agressores, a vítima hesitou em denunciar os acontecimentos por medo de represálias. Antes do término do expediente, um dos cabos envolvidos a ameaçou, advertindo-a a não relatar o ocorrido aos superiores.
No dia seguinte, as dores físicas aumentaram, e a vítima tentou entrar em contato com seus superiores, mas sem sucesso, sendo tarde para obter respostas. Em um episódio de surto psiquiátrico, o soldado tentou suicídio, tendo sido socorrido pela Polícia Militar. O boletim de ocorrência documenta este acontecimento.
Depois da tentativa de suicídio, a vítima foi hospitalizada e teve alta após receber sedação e medicação. Ela foi afastada do Exército por 45 dias para tratamento psicológico. Desde então, continua em tratamento, e utiliza medicamentos para controlar ansiedade e ataques de pânico, conforme informações do advogado Canhadas.
Atualmente, o caso está envolto em segredo de justiça, e o advogado não teve acesso ao processo. Em suas palavras: "Essa atitude [a expulsão dos militares] era esperada, mas não é suficiente. O soldado sofreu lesões físicas e psicológicas graves, e o processo na Justiça Militar deve seguir seu curso. Medidas de prevenção precisam de ser adotadas para evitar que casos como esse se repitam".
O advogado também ressaltou que o Exército tem prestado apoio à vítima, oferecendo visitas diárias e suporte necessário. No entanto, ele enfatiza a importância de garantir os direitos fundamentais do soldado, incluindo um tratamento adequado e a chance de retomar a carreira militar, que sempre foi seu sonho.
Em nota, o Comando Militar do Sudeste informou que o Inquérito Policial Militar (IPM) foi concluído e enviado à Justiça Militar da União (JMU). Todos os militares envolvidos já foram expulsos do Exército e responderão por seus atos na Justiça Civil. O Exército Brasileiro, em seu comunicado, expressou que "repudia, veementemente, a prática de maus tratos ou qualquer ato que viole os direitos fundamentais do cidadão".