O partido ultranacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve um desempenho notável nas últimas eleições, ultrapassando 20% dos votos. Essa ascensão é particularmente impactante entre a população jovem e os residentes da antiga Alemanha Oriental, onde esses grupos representam uma minoria significativa no contexto nacional.
Com 20,8% dos votos, a AfD ficou em segundo lugar, logo atrás da União Democrata-Cristã (CDU), que é de centro-direita. O crescimento do partido foi substancial, dobrou sua votação em relação aos 10,4% registrados em 2021. Esse êxito foi impulsionado pela mobilização de eleitores que não participaram das eleições anteriores, representando cerca de 40% dos 4,4 milhões de votos conquistados pela AfD, conforme dados de pesquisas de boca-de-urna da Infratest dimap.
A habilidade de mobilização da AfD foi um fator crucial para o recorde de 84% de comparecimento, o maior desde a reunificação da Alemanha em 1990. Os novos eleitores incluem não só cidadãos atraídos pela postura antiestablishment do partido, mas também jovens que acabaram de atingir a idade mínima para votar, aos 18 anos.
Outro partido que se destacou nas eleições foi a Esquerda (Die Linke), que passou de 4% para 9%, tornando-se o mais votado entre os jovens de 18 a 24 anos. A AfD também se saiu bem nesse segmento etário, conquistando o segundo lugar e destacando-se entre os adultos de 25 a 40 anos, onde obteve um quarto dos votos.
A posição inferior desses partidos no ranking geral reflete o fato de que mais da metade da população alemã tem mais de 40 anos. O censo indica que os alemães com menos de 20 anos representam apenas 19% da população, enquanto os de 20 a 40 anos correspondem a 24%. As faixas etárias de 40 a 60, 60 a 80 e acima de 80 anos compõem 27%, 23% e 7%, respectivamente.
Além disso, os residentes da antiga Alemanha Oriental, que representam apenas 15% da população total, foram majoritários na votação da AfD, a qual triunfou em todos os cinco estados dessa região. No entanto, a cidade de Berlim apresenta um cenário diferente, com o Partido Social-Democrata (SPD) vencendo na porção oriental da capital, apesar de ter obtido apenas 16% dos votos, o que representa o pior resultado da história do partido. A CDU liderou na parte ocidental da cidade.
Desde a reunificação em 1990, a antiga Alemanha Oriental é um território fértil para ultranacionalistas, incluindo grupos neonazistas que demonstram apoio à AfD. Dados de 2021 mostram que a renda dos habitantes da região é 11% inferior à dos ocidentais, com um patrimônio que é apenas metade do registrado na Alemanha Ocidental. Além disso, a taxa de desemprego na região atinge 20,5%, contrastando com 6,4% do total nacional.
O crescente apoio da AfD e da Esquerda entre os jovens pode ser atribuído à sua presença nas redes sociais, especialmente no TikTok. Muitos jovens, incluindo crianças e adolescentes não elegíveis para votar, já se identificam como AfD-Wähler (eleitor da AfD) ou Linke-Wähler (eleitor da Esquerda).
A líder da Esquerda, Heidi Reichinnek, de 36 anos, atrai a atenção do público jovem com seu estilo energético e suas tatuagens visíveis. Sua popularidade nas redes sociais resulta em discursos que alcançam milhões de visualizações.
Além disso, a Esquerda orientou sua campanha para abordar temas relevantes para os jovens, como controle de aluguel e aumento do custo de vida, questões que impactam diretamente essa faixa etária. Por outro lado, a AfD se beneficiou da desilusão dos jovens com os partidos tradicionais, oferecendo soluções simples e diretas, como a deportação de imigrantes, que ressoam com a insatisfação geral frente à situação econômica.