Autoridades de Relações Exteriores de países europeus se reuniram em Bruxelas na última segunda-feira (24) para discutir mudanças significativas nas relações ocidentais, impulsionadas pela nova postura dos Estados Unidos sob a administração do presidente Donald Trump. Os ministros europeus expressaram que o continente entrou em uma nova era em relação à política externa americana, uma vez que as medidas e declarações de Trump indicaram uma drástica reorientação nas prioridades de Washington.
Durante a reunião, os ministros mostraram-se preocupados com as recentes decisões de Trump, que incluem o reatamento de negociações com a Rússia sobre o fim do conflito na Ucrânia, enquanto desconsidera as preocupações de Kiev e do próprio continente europeu. Kaja Kallas, a chefe de política externa da União Europeia (UE), enfatizou essa inquietação: “Está claro que as declarações dos Estados Unidos nos deixam preocupados”. No entanto, Kallas ressaltou que a expectativa é de que a Europa e os EUA consigam resolver suas divergências, como fizeram no passado.
Embora a relação transatlântica esteja em transformação, a ministra afirmou: “É claro que [o relacionamento transatlântico] vai mudar. Isso é muito claro, mas não devemos jogar pela janela algo que funcionou bem até agora.”
Na reunião, Friedrich Merz, líder do partido conservador alemão, levantou questões sobre o futuro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), colocando em debate se a aliança militar se manterá em sua “forma atual” até o meio do ano. Merz alertou que a Europa deve rapidamente desenvolver uma capacidade de defesa independente frente a um cenário geopolítico instável.
O ministro da Defesa da Holanda, Caspar Veldkamp, também abordou a mudança de era, afirmando: “A era que começou com a queda do Muro de Berlim acabou”. Ele destacou a importância da Europa organizar-se não apenas internamente, mas também em colaborações com países como Reino Unido e Noruega, para enfrentar os novos desafios impostos, em especial pela postura de Trump.
Analistas do Eurasia Group alertaram que os últimos eventos demonstraram que “a Europa está à beira de um mundo muito mais perigoso” e que, se os líderes da UE não reagirem rapidamente, isso poderá impactar a ordem internacional nas próximas décadas.
Os ministros da UE também aprovaram um novo pacote de sanções contra a Rússia, em sincronia com o terceiro aniversário da invasão da Ucrânia. Este anúncio coincide com uma série de encontros programados em Bruxelas, Kiev e Washington, todos com foco no apoio à Ucrânia.
Os líderes europeus terão uma cúpula extraordinária marcada para 6 de março, onde discutirão suporte adicional à Ucrânia, garantias de segurança e como financiar as necessidades de defesa do continente. Merz, refletindo sobre as recentes declarações de Trump, expressou sua preocupação sobre a indiferença do governo americano em relação ao futuro da Europa, enquanto discursava em um programa da emissora pública alemã ARD.
Jan Lipavsky, ministro da República Tcheca, reiterou a necessidade de a Europa apresentar força, mas mantendo os laços com os Estados Unidos. “Todos nós podemos sentir a mudança na retórica dos EUA, especialmente como nas últimas duas ou três semanas”, comentou Lipavsky. Ele enfatizou que essa mudança de retórica não deve interromper o engajamento europeu com os norte-americanos; na verdade, a intenção é precisamente o oposto.
Em uma demonstração de solidariedade, diversos líderes e ministros da UE visitaram Kiev para apoiar a Ucrânia. Nesta semana, os chefes de governo da França e do Reino Unido estão programados para se encontrar com Trump nos Estados Unidos. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, insistiu na necessidade de acelerar o envio de armamentos à Ucrânia em sua visita a Kiev, afirmando: “Devemos acelerar a entrega imediata de armas e munições.”
O 16º pacote de sanções da UE contra a Rússia inclui restrições à importação de alumínio primário, proibição de venda de consoles de jogos e a listagem de proprietários e operadores de 74 navios, parte da chamada frota paralela, que tenta escapar das sanções impostas.