A ascensão da direita radical na Alemanha se torna cada vez mais evidente, principalmente após as recentes eleições parlamentares, onde o partido Alternative für Deutschland (AfD) conquistou 20,6% dos votos, ficando em segundo lugar, enquanto o conservador União Democrata-Cristã (CDU) liderou com 28,6%. O fortalecimento do AfD é atribuído ao seu discurso anti-imigração, que preocupa muitos brasileiros residindo no país.
Gabriela Badain, uma estudante de 27 anos que vive em Leipzig, expressa sua preocupação com o futuro após as eleições. "Me sinto impotente diante desse avanço radical", afirma. Ela, como muitos imigrantes, não pode votar e se sente excluída. No estado da Saxônia, onde reside, o AfD tem ganhado força, tornando-se o segundo partido no Parlamento local.
Embora Gabriela nunca tenha sofrido ataques xenofóbicos diretamente, ela lamenta a crescente hostilidade contra imigrantes. Dados de 2024 mostram que 13,3% da população alemã acredita que a presença de estrangeiros é uma ameaça. Ela narra um episódio em que um jovem alemão se aproximou de sua mesa em um restaurante e fez um gesto similar a uma saudação nazista. "Fiquei horrorizada", relata, destacando que a normalização de tais comportamentos é alarmante.
A AfD já esteve envolvida em controvérsias, tendo sido acusada de aproximar-se de ideais neonazistas. Recentemente, um político do partido declarou que membros da SS nazista "não eram todos criminosos", gerando um escândalo e resultando em sua expulsão da coligação Identidade e Democracia (ID) no Parlamento Europeu. Este tipo de retórica radicalizou ainda mais o cenário político, fazendo com que partidos como CDU e SPD adotassem uma posição de isolamento em relação ao AfD.
Luciano Luz, um entregador de 38 anos que vive em Mannheim, compartilha suas experiências de discriminação, relatando um episódio em que um desconhecido lançou água fria sobre ele enquanto trabalhava. Para Luciano, o medo e a apatia em relação ao crescente nacionalismo são sentimentos comuns entre imigrantes. "Minha única esperança é que eles não sejam a maioria", afirma, enquanto considera retornar ao Brasil para ficar perto de seus familiares.
O temor de imigrantes como Gabriela e Luciano é compartilhado por muitos, uma vez que a intolerância e a radicalização política parecem ganhar corpo na Alemanha. Gabriela menciona a possibilidade de concluir seu mestrado em outro país caso a situação se agrave. Ela trabalha meio período como professora de alemão para crianças imigrantes e teme que o clima de hostilidade possa impactar suas oportunidades profissionais.
Para Éder Souza, 40 anos, que reside em Bruchsal, a situação é igualmente desafiadora, mas ele optou por não deixar a Alemanha. Ele vê uma resistência ao crescimento do nacionalismo, afirmando: "Enxergo uma outra parte da Alemanha que batalha contra essa onda de direita". Éder destaca que, embora tenha ouvido muitos relatos de xenofobia, ele e sua esposa nunca enfrentaram discriminação direta.
Recentemente, figuras públicas, como Elon Musk, intensificaram o discurso de apoio a partidos extremistas, ao participar de eventos que endossam a AfD. Musk reiterou que é "bom ter orgulho de ser alemão" e convocou a que os cidadãos lutem por um "futuro brilhante para a Alemanha", reforçando a ideia de que o partido representa uma esperança para o país. Esse tipo de apoio alimenta a percepção de que as ideias extremistas estão se normalizando na sociedade.
A crescente sensação de insegurança gera ansiedade entre os imigrantes. Ambas as narrativas de Gabriela e Luciano evidenciam um dilema: continuar a viver em um país onde se sentem discriminados, ou retornar ao Brasil em busca de um ambiente mais seguro. Essa insegurança é agravada pelas políticas de imigração que, embora ainda em discussão, já sinalizam um endurecimento.
A expectativa é que a situação política evolua nos próximos meses e o impacto sobre os imigrantes, especialmente os brasileiros, permaneça um tema de relevância. Com as eleições e as políticas cada vez mais instáveis, o futuro para muitos continua com incertezas.
É fundamental que os cidadãos se juntem para debater e discutir soluções para esses problemas, levantando a voz em defesa de um futuro mais inclusivo e respeitoso para todos.