Áudios obtidos pelo programa Fantástico, da TV Globo, expõem um plano elaborado por civis e militares voltado para um golpe de Estado após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro em 2022. Os conteúdos, que foram extraídos de dispositivos apreendidos pela Polícia Federal (PF), revelam conversas comprometedores que envolvem figuras chave nas investigações que resultaram em denúncias apresentadas ao Supremo Tribunal Federal (STF).
No contexto das mensagens divulgadas, é evidente o chamado à população para participar de uma ação que visava reverter os resultados eleitorais, com declarações como: "O povo tá nas ruas, pedindo pra que haja uma outra eleição, de forma que possa ser cobrado de uma forma mais clara. Só quem tem quatro estrelas no ombro não tá vendo isso?". Esta afirmação foi feita durante uma conversa com Guilherme Marques de Almeida, na época, tenente-coronel e comandante das Operações Terrestres do Exército.
Um dos trechos considerados mais alarmantes inclui Almeida mencionando: "A gente não sai das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair. Ou então eles vão continuar dominando a gente". Esse momento ilustra o grau de desespero entre os envolvidos na ação, que buscavam formas de contornar as leis e a ordem democráticas estabelecidas.
Além disso, gravações apontam que, diante de impedimentos, a estratégia era fazer com que reivindicações chegassem diretamente a Bolsonaro. Um exemplo disso ocorre quando o general Mario Fernandes, atualmente preso, sugere ao tenente-coronel Mauro Cid que o presidente interviesse: "Se o presidente pudesse dar um input ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF... a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro, como os caminhoneiros".
Os áudios também mencionam a esperança de que os líderes das Forças Armadas apoiassem o plano. O general Fernandes, em um dos áudios, destaca sua preocupação: "Algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força foi ao Alvorada, para sinalizar ao presidente que ele podia dar a ordem". Essa expectativa permeava as discussões entre os altos oficiais e civis que se viam envolvidos no esquema.
A desconfiança em relação à postura dos comandantes das Forças Armadas cresce em determinados momentos das gravações. Um exemplo disso é o coronel George Hobert Oliveira Lisboa, que expressa sua frustração: "Agora tá ficando muito claro que o Alto Comando do Exército tá se fechando em copas... quando deveria estar pensando em primeiro lugar no Brasil". Essa declaração revela a tensão interna sobre a posição que as entidades militares deveriam adotar diante da crise política.
Outro ponto alto das gravações é a constatação de que algumas das Forças não tinham a mesma disposição para apoiar o golpe. O tenente-coronel Sérgio Cavaliere explica a um colega que o Alto Comando estava racho e "não quer encampar a ideia". Essa falta de alinhamento entre os interesses dos envolvidos complica ainda mais a situação, levando a um impasse em relação ao avanço do golpe.
Em uma das declarações compartilhadas, o coronel Bernardo Corrêa Netto observa que Bolsonaro só poderia avançar com um decreto para o golpe com o apoio das Forças Armadas, uma vez que ele estava "com medo de ser preso". Esses relatos fornecem uma visão sobre a precariedade do plano, dependendo fortemente do aval militar para sua execução.
A defesa do general Mario Fernandes, em contato com a TV Globo, solicitou acesso ao total das informações oriundas das quebras de sigilo e alegou que as denúncias apresentadas são formadas por fragmentos desconexos de conversas. Enquanto isso, os advogados do tenente-coronel Cid preferiram não comentar o caso, e tentativas de contato com as defesas dos demais mencionados foram infrutíferas.