A recente denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliada à revelação da delação premiada de seu ex-assessores, Mauro Cid, provocou uma escalada de tensões no Congresso Nacional, levando a intensos debates entre os parlamentares. A expectativa é de que essas discussões continuem a moldar o cenário político nos próximos dias.
No dia 21 de fevereiro, a sessão da Câmara dos Deputados foi interrompida em meio a tumultos entre os aliados de Bolsonaro e outros membros da Casa. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), repreendeu os deputados e ameaçou encaminhar ao Conselho de Ética aqueles que estivessem envolvidos em comportamentos agressivos durante as sessões.
"Com certeza isso vai trazer um movimento forte no plenário. A reação de ontem [discussão entre a base e a oposição] já foi nítida em relação a essa denúncia. Não tenho dúvidas de que vai impactar muito em relação ao comportamento no plenário", declarou o líder do PDT, Mário Heringer (PDT-MG).
O depoimento de Mauro Cid constitui uma parte fundamental da denúncia que foi formalmente apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-SP), observou que essa denúncia e a delação de Cid têm "aquecido os ânimos" entre os parlamentares, enfatizando a necessidade de que haja civilidade nas discussões entre as partes envolvidas.
"A denúncia e a delação acirram os ânimos, o que não é bom. Mas precisamos de um mínimo de civilidade. Acho que, de ambos os lados, precisamos manter um equilíbrio, fazer o confronto ideológico nas ideias e sem excessos que visem apenas a visibilidade nas redes sociais", comentou Soci.
O líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), por sua vez, acredita que a oposição vai usar a atual situação para ampliar discussões e "fazer barulho", especialmente no que diz respeito à pauta anti-STF. No entanto, considera que a situação atual enfraquece o projeto das oposições que visam a anistia aos responsáveis pelos eventos de 8 de janeiro. "Acredito que com a denúncia a tendência deles [oposição] é tentar criar barulho, ir para o conflito. No entanto, isso [denúncia e delação] enfraquece a anistia. Acredito que a anistia morreu", afirmou.
Os parlamentares que apoiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) veem a denúncia como uma oportunidade, especialmente no que se refere ao tempo da criação da PGR. Para eles, a mudança de foco do debate público para Bolsonaro é benéfica, disfarçando crises momentâneas na popularidade de Lula.
Recentes pesquisas do Datafolha apontam que o petista enfrenta a mais baixa aprovação em seus três mandatos, registrando também os maiores índices de desaprovação. Os deputados e senadores aliados a Lula acreditam que permanecer focado na denúncia contra Bolsonaro poderá ajudar a redirecionar críticas à administração e minimizar a insatisfação popular acerca do governo.
Por outro lado, a oposição, já ciente do conteúdo da denúncia proveniente da PGR, se prepara para intensificar suas ações até 2026. Jair Bolsonaro continua sua luta pelo retorno à arena política e busca reverter sua inelegibilidade nas cortes eleitorais. É nesse contexto que se intensificam as movimentações dos parlamentares aliados a ele.
No seu primeiro evento público após a manifestação da PGR, o ex-presidente Jair Bolsonaro se posicionou como pré-candidato e fez um apelo a seus apoiadores para que escolham parlamentares que se alinhem à direita nas próximas eleições.
Um senador da oposição revelou que, frente à situação, o grupo deve "copiar" as estratégias que foram utilizadas durante os anos em que Lula enfrentava a Operação Lava Jato. Diversas ações foram desempenhadas pelo PT para livrar o ex-presidente de suas condenações, tanto no Brasil quanto em cortes internacionais e organismos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Parlamentares aliados a Bolsonaro acreditam que esses novos movimentos podem mobilizar ainda mais seus apoiadores e impulsionar a agenda prioritária de seu grupo no Congresso. Atualmente, as pautas que movimentam a oposição incluem a anistia a aqueles que são considerados vândalos golpistas, além das propostas de alteração na Lei da Ficha Limpa.
Um dos principais momentos de mobilização da oposição está programado para o dia 16 de março, quando manifestações serão realizadas em todo o país. O objetivo central dessas ações, que já estavam previstas antes da denúncia, deverá continuar a ser o apoio à anistia. "Nosso foco principal é a anistia mesmo, não faz sentido. Acredito que o ambiente se intensificou muito [após a divulgação da delação de Cid e da manifestação da PGR]. Vamos trabalhar primeiro na Câmara e pautar a questão para que possamos votar", concluiu o senador Izalci Lucas (PL-DF), que deve assumir em breve a liderança da oposição no Congresso.