O Brasil pode estar se preparando para um período de estagflação, conforme apontam economistas do UBS BB. O banco projeta um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1,3% para 2025, bem abaixo da expectativa de 2% do mercado. Ao mesmo tempo, a inflação deverá permanecer acima do teto da meta estipulada. Para os especialistas, a estagflação é uma situação econômica complicada, pois combina crescimento estagnado com um nível elevado de inflação.
Alexandre de Azara e sua equipe destacam em um relatório para investidores que, mesmo com alguns anos de resultados melhores do que o esperado, os indicadores atuais indicam uma desaceleração econômica. Dados recentes nas áreas de vendas no varejo, produção industrial e serviços mostraram resultados inferiores ao esperado, e os índices de confiança caíram para níveis abaixo de 100 pontos, refletindo um clima de pessimismo entre os empresários.
Em 2024, um dos pilares do crescimento foi o impulso fiscal proporcionado pelos precatórios, que injetaram mais de R$ 100 bilhões na economia, favorecendo o consumo. No entanto, para 2025, espera-se que este volume caia para cerca de R$ 50 bilhões, o que diminuirá o impacto positivo sobre a demanda. O UBS BB alerta para o risco de os gastos fiscais continuarem elevados, o que pode criar uma crise de confiança em relação à política fiscal do governo. “O crescimento do consumo pode ser adversamente afetado pela diminuição das transferências de precatórios, enquanto os gastos fiscais centrais devem permanecer estáveis”, afirmam os analistas do banco.
O investimento, por sua vez, também deve sofrer uma retração, com uma previsão de crescimento de apenas 0,5%, drasticamente menor que os 7% registrados em 2024. Os estrategistas mencionam que a alta nas taxas de juros reais e a instabilidade cambial podem desencorajar os investimentos produtivos em 2025. Apesar da desaceleração econômica, a expectativa é que o Banco Central mantenha as taxas de juros elevadas, sem espaço para cortes, devido à inflação persistente e às expectativas de preços em alta.
O UBS BB projeta, inclusive, um aumento de 100 pontos-base na Selic durante as duas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Essa elevação das taxas de juros preocupa os analistas, uma vez que a moeda brasileira sofreu pressão após o anúncio da isenção do imposto de renda em novembro de 2024, subindo de R$ 5,80 para R$ 6,20 por dólar rapidamente. Embora a cotação tenha retornado ao patamar anterior, a curva de juros permanece, em média, 1,5 a 2 pontos percentuais mais alta do que nos meses anteriores.
Os estrategistas do UBS BB destacam que a alta nas taxas de juros é uma preocupação central, pois pode impactar negativamente o crescimento econômico. Eles observam que os efeitos da política monetária restritiva do Banco Central já podem ser percebidos em indicadores como vendas, produção industrial e serviços. Dados de novembro e dezembro de 2024 revelaram que o mercado de trabalho teve um desempenho aquém do esperado, com apenas 20 mil novas contratações, muito abaixo das 90 mil já previtas.
A redução da confiança, tanto de consumidores quanto de empresários, também é sinalizada como uma preocupação. Indicadores de janeiro de 2025 mostraram uma queda na confiança em todos os setores, incluindo varejo, serviços e indústria. O Índice de Incerteza Econômica atingiu o maior nível desde julho de 2022, sugerindo que as perspectivas para a economia permanecem complicadas. Além disso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve se manter acima da meta superior de 4,5% até março de 2026, o que pode dificultar o alcance da meta de longo prazo de 3% de inflação.