As farmácias localizadas em São Paulo estão enfrentando um aumento alarmante nos roubos de medicamentos para emagrecimento, como Ozempic, Wegovy e Saxenda. Segundo reportagem do Estadão, a demanda elevada, aliada ao preço elevado desses produtos, tornou as farmácias um alvo desejado para assaltantes.
São Paulo emergiu como um dos principais focos mundiais desse tipo de crime, especialmente devido à grande concentração de farmácias que mantêm esses medicamentos em seus estoques, atendendo principalmente consumidores de classe alta. Os assaltantes aproveitam as redes sociais, como WhatsApp e Facebook, para encontrar compradores rapidamente.
A análise da IQVIA revela um crescimento significativo nas vendas do Ozempic, que saltaram de R$ 27,5 milhões em 2019 para impressionantes US$ 621,6 milhões em 2023. O preço do medicamento varia atualmente entre R$ 900 e R$ 1.300, de acordo com a tributação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Rodrigo Lima, experiente na área com 20 anos de atuação em redes de farmácias e diretor de operações da Ultrafarma, destaca que o custo elevado despertou uma demanda intensa pelos produtos, resultando na formação de quadrilhas especializadas. O aumento da violência nos assaltos levou muitas farmácias a adotar medidas de segurança mais rigorosas. Algumas redes decidiram implementar vigilância armada em suas lojas, enquanto farmácias independentes têm retirado esses medicamentos do seu estoque.
"Quem tem Ozempic no estoque não consegue trabalhar em paz", afirma Wilson Martins, gerente de uma farmácia na zona oeste da capital paulista.
Os assaltos não se restringem apenas às farmácias; também foram registrados roubos de caminhões que transportam os medicamentos, muitas vezes contando com a participação de funcionários das empresas de transporte. Dados da Anvisa indicam que em 2024 mais de 8 mil canetas de Ozempic foram roubadas ou perdidas, quase o dobro do que ocorreu no ano anterior.
O crescimento do mercado clandestino desses medicamentos está intimamente relacionado à crescente obesidade no Brasil. Em 2023, a situação se agravou, com 24% dos adultos nas grandes cidades classificados como obesos, um aumento considerável em comparação aos 12% registrados em 2006, conforme dados do Ministério da Saúde. A popularidade do Ozempic também foi impulsionada por celebridades e influenciadores que compartilham suas histórias de perda de peso nas redes sociais. O aumento da valorização estética e as dificuldades de acesso ao medicamento pelo canal regular de vendas têm acentuado os roubos. "A onda de furtos começou quando as redes sociais começaram a falar abertamente sobre o medicamento", explica Renata Gonçalves, presidente de um sindicato de farmacêuticos em São Paulo.
Frente a esse aumento desenfreado de crimes, algumas redes farmacêuticas têm apostado na diminuição de estoques e na implementação de sistemas de segurança mais robustos. No entanto, especialistas acreditam que a verdadeira solução para esse problema poderá surgir com a quebra da patente da Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, prevista para 2026. A expectativa é que com a introdução de genéricos no mercado, o preço do medicamento seja reduzido drasticamente, diminuindo, assim, os estímulos para o roubo e o comércio clandestino.