À medida que a eleição de 2026 se aproxima, a base de apoio do presidente Lula (PT) começa a manifestar um crescente desejo por renovação. Segundo cientistas políticos consultados pela CNN, o cenário atual, marcado por uma queda drástica na aprovação do governo – que atingiu apenas 24%, a mais baixa durante seus mandatos – sinaliza um clima de incerteza e a necessidade de apresentar novas lideranças.
A pesquisa do Datafolha divulgada em 14 de fevereiro revelou essa queda significativa na popularidade do presidente. Para o doutor em Ciência Política Fábio Vasconcellos, ainda há chance para Lula se recuperar até as próximas eleições, já que cerca de dois anos separam o momento atual do pleito de outubro de 2026. "Ainda temos um governo a ser realizado em dois anos e você não sabe quem serão os competidores em 2026 — os eleitores sempre fazem comparações entre os candidatos considerando o contexto", explica.
Uma pesquisa mais recente do Ipec, divulgada em 15 de fevereiro, revelou as principais motivações que levam 32% dos eleitores de Lula em 2022 a não querer sua candidatura em 2026. Os principais pontos mencionados foram:
O cientista político Jorge R. Mizael ressalta que a pesquisa aponta um aumento no espaço para novas lideranças, tanto dentro do PT como em partidos aliados. Mizael acredita que Lula deve atentar para esse desejo de renovação em sua base e considerar sua estratégia para 2026. "Ao adiar uma decisão clara, ele pode alimentar a incerteza em sua coalizão e dificultar a construção de uma alternativa viável caso decida não concorrer", afirma.
Recentemente, Lula enfatizou a importância de sua saúde em uma declaração sobre as eleições de 2026. Ele mencionou ter se recuperado de uma queda e uma cirurgia que realizou ano passado. "Se eu tiver com 100% da saúde e a energia que eu tenho hoje, eu me candidato. […] Mas não é a minha prioridade agora: quero governar 2025", revelou em entrevista à Rádio Clube do Pará.
Quando esteve preso em 2018 e impossibilitado de concorrer, Lula apoiou Fernando Haddad, que hoje é o ministro da Fazenda, como candidato à Presidência pelo PT. No entanto, a atual gestão econômica do governo gera um desgaste frente à opinião pública. Vasconcellos alerta: "Não adianta você lançar um candidato que é ministro da economia com a economia em frangalhos. Esse projeto estaria completamente falido." Apesar disso, Haddad ainda é considerado uma opção forte para a sucessão governista.
Aliados de Lula sugerem que ele inicie um "modo eleição" e que adote medidas voltadas para o consumo e a renda, como isentar do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil. Essa proposta é esperada na pauta do Congresso após o Carnaval. O cientista político Rafael Cortez observa que o atual governo ainda não deixou uma marca clara e opera sob riscos democráticos, cujos apelos já não têm a mesma força.
Jorge Mizael acredita que o governo ainda possui uma vantagem estratégica para reverter sua situação se houver uma melhora significativa nos indicadores de economia, como inflação e crescimento de emprego. "Caso isso ocorra, Haddad pode se fortalecer como sucessor. Do contrário, novos nomes começarão a aparecer com mais força", analisa.
É interessante observar que, em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro viu sua aprovação, que em setembro e dezembro estava em 22%, aumentar para 31% na véspera das eleições de 2022, mesmo após rondar índices negativos. Isso demonstra que a dinâmica da popularidade pode mudar rapidamente dependendo das ações tomadas pelo governo e suas repercussões nas pesquisas.
A avaliação final de Vasconcellos é que tanto o governo quanto Haddad devem reagir a esses indicadores de popularidade e seus impactos nas eleições. "A questão é saber se essa reação vai gerar resultados positivos. Essa é a grande incógnita", conclui.