O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, expressou preocupações de que o suporte dos Estados Unidos à Europa está mudando, ao pedir uma união mais forte entre os países europeus para a criação de um exército e uma política externa coesa. Durante uma recente Conferência de Segurança em Munique, ele comentou sobre uma conversa entre Donald Trump e Vladimir Putin, que deixou Kiev apprehensiva acerca de sua exclusão das negociações importantes.
“Alguns dias atrás, o presidente Trump me contou sobre sua conversa com Putin. Ele não mencionou nem uma vez que a América precisa da Europa naquela mesa. Isso diz muito”, destacou Zelensky. Ele prosseguiu afirmando que os tempos em que os Estados Unidos sustentavam a Europa apenas por uma tradição de apoio estão chegando ao fim.
Enquanto conversava com Christiane Amanpour da CNN, Zelensky admitiu que não se sentiu satisfeito ao saber que a primeira ligação de Trump foi feita a Putin, destacando que poderia ser ainda mais preocupante se Trump se reunisse com o presidente russo antes dele. O ucraniano afirmou que, apesar de Trump não ter se comprometido a um encontro prévio, o presidente americano compreendeu a urgência de discutir "planos concretos" para resolver a guerra em andamento.
Zelensky também se dirigiu à plateia um dia após um discurso do vice-presidente americano, JD Vance, que ignorou os desafios da Ucrânia e a necessidade de um acordo com a Rússia. O líder enfatizou a importância de a Europa se preparar para um futuro onde o suporte militar dos EUA pode não ser tão abundante. "Vamos ser honestos — agora não podemos descartar a possibilidade de que os EUA digam 'Não' à Europa em questões que os ameaçam. Muitos líderes falaram sobre a Europa que precisa de seu próprio exército — um Exército da Europa", afirmou.
Ele também mencionou que a mudança na dinâmica das relações entre a Europa e os EUA indica que décadas de suporte contínuo estão acabando, o que exige que o continente se adapte. "Ontem, aqui em Munique, o vice-presidente dos EUA deixou claro — décadas do antigo relacionamento entre a Europa e os EUA estão terminando. De agora em diante, as coisas serão diferentes, e a Europa precisa se ajustar a isso", disse Zelensky.
Prosseguindo com seu discurso, Zelensky fez acusações a Putin, dizendo que o presidente russo tenta "dividir o mundo" através de conversas unilaterais com líderes globais, como Trump. "Putin tentará fazer com que o presidente dos EUA fique na Praça Vermelha em 9 de maio, não como um líder respeitado, mas como figura decorativa em sua performance — não precisamos disso", alertou.
Em um momento que gerou risos entre os presentes, Zelensky ironizou dizendo que havia comentado com Trump que Putin tinha medo dele. “Eu disse a Trump que Putin tem medo dele e ele me ouviu. E agora Putin sabe”, brincou.
Zelensky ressaltou que, no momento, o maior influente da OTAN parece ser Putin, já que suas vontades têm o poder de bloquear decisões significativas da aliança. "A Ucrânia nunca aceitará acordos feitos pelas nossas costas sem nosso envolvimento. E a mesma regra deve se aplicar a toda a Europa", enfatizou. O presidente ucraniano pediu que decisões sobre o futuro da Ucrânia e da Europa sejam feitas com a participação direta de suas nações. "Nenhuma decisão sobre a Europa sem a Europa. A Europa deve ter um assento à mesa quando as decisões sobre o continente estão sendo tomadas", completou.
Após o discurso de Zelensky, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, comentou que a Europa "precisa urgentemente de um plano de ação" em relação à Ucrânia, ou corre o risco de que outros atores globais decidam o futuro do continente. "Este plano deve ser preparado agora. Não há tempo a perder", afirmou Tusk em uma declaração nas redes sociais.