Recentemente, um post ganhou destaque nas redes sociais, especialmente no X, Facebook e WhatsApp, alegando que a Pfizer divulgou uma lista contendo 46 efeitos colaterais relacionados às vacinas contra a covid-19. No entanto, essa informação é enganosa. Na verdade, as bulas dos imunizantes comercializados no Brasil mencionam apenas três desses efeitos: miocardite, pericardite e paralisia facial aguda.
Apenas os dois primeiros efeitos, miocardite e pericardite, são considerados muito raros, enquanto a paralisia facial aguda é classificada como um evento raro. Todos estes efeitos já estavam documentados e não foram relatados recentemente. As informações constam nas versões atuais das bulas da vacina Comirnaty bivalente, atualizadas em maio de 2024, e da vacina que protege contra a variante JN.1, disponibilizada em novembro de 2024.
O conteúdo controverso mencionava problemas severos de saúde, como lesão renal aguda, insuficiência cardíaca, pneumonia, diabetes tipo 1 e morte súbita, afirmando equivocadamente que todos estavam associados à vacina. Após a análise, o Comprova chegou à conclusão de que a maioria dos efeitos adversos listados não está relacionada às vacinas da Pfizer no Brasil. Dos 46 problemas de saúde citados, apenas três estão nas bulas oficiais.
É interessante notar que reações como miocardite, que foram relacionáveis a vacinas, ocorrem em uma frequência muito menor entre vacinados do que entre pessoas que contraem a covid-19. De acordo com informações já divulgadas pelo Comprova, a incidência de miocardite ocorre em menos de 0,01% dos vacinados, enquanto entre os infectados pela covid isso chega a ser sete vezes maior.
A bula da vacina Comirnaty bivalente, a mais frequentemente administrada no Brasil, inclui tanto a cepa original do coronavírus quanto variantes em circulação. O documento referente à vacina da variante JN.1 foi aprovado em 28 de novembro de 2024. Ambas as bulas são disponibilizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
As informações sobre a vacina foram confirmadas pela assessoria de imprensa da Pfizer, que destacou que a última atualização da bula ocorreu em novembro passado. Essa atualização trouxe informações sobre a composição do imunizante e os eventos adversos reconhecidos durante os estudos de eficácia e segurança, tanto em fase pré quanto pós-comercialização.
A farmacêutica destacou ainda que a autorização do uso da vacina pela Anvisa e outras agências reguladoras em todo o mundo se baseou em avaliações rigorosas e independentes, apoiadas por dados científicos relacionados à qualidade, segurança e eficácia. "Dados de estudos de mundo real complementam as informações dos estudos clínicos e oferecem evidências adicionais de que a vacina proporciona proteção eficaz contra formas graves da doença", afirmou a empresa.
Até o momento, a Pfizer distribuiu mais de 4,8 bilhões de doses da vacina em mais de 183 países, sem nenhum aviso de segurança que coloque em dúvida a continuidade do uso. O comunicado da Pfizer em suas redes sociais referenciou um link para informações sobre efeitos colaterais e segurança da Comirnaty, mas, mais uma vez, a maior parte das doenças associadas pelo post enganoso não foi mencionada. O site disponibilizado no Facebook é dirigido a residentes nos Estados Unidos, devido a diferenças nos rótulos dos produtos.
Embora houve tentativas de contato com o autor do post no X, o perfil não permitia mensagens diretas. O autor na plataforma Facebook também foi contatado, mas não respondeu até o fechamento da análise. O Comprova define como enganoso o conteúdo que é retirado de seu contexto original e empregado de forma a alterar seu significado, mesmo quando não há intenção deliberada de causar danos.
A viralização da publicação é notável, alcançando mais de 725 mil visualizações, 5 mil compartilhamentos e 14 mil curtidas, o que a torna um alvo frequente para investigações de veracidade.
Os especialistas do Comprova analisaram as bulas disponíveis no site da Pfizer no Brasil, que são as mesmas publicadas pela Anvisa, para validar a veracidade das informações. Diante do monitoramento de conteúdos duvidosos nas redes sociais, iniciativas como a do Comprova têm um papel fundamental ao investigar publicações que obtêm grande engajamento e potencial de desinformação.
Além disso, o Comprova já havia identificado e desmentido outros conteúdos enganosos relacionados à Pfizer e suas vacinas contra a covid-19, incluindo vídeos que distorcem declarações feitas por executivos da farmacêutica e postagens que retiram documentos de contexto, sugerindo informações falsas sobre a imunização.