O presidente dos EUA, Donald Trump, realizou recentemente uma mudança controversa relacionada à política de asilo ao abrir uma exceção para os africâneres, a minoria branca da África do Sul, afirmando que eles são vítimas de "discriminação racial injusta". Essa decisão ocorre em um cenário onde Trump já havia suspendido, no início de seu mandato, o programa de reassentamento de refugiados, considerando-os um peso para o país.
Na semana passada, em uma ordem executiva, ele decidiu oferecer asilo para os africâneres, enquanto suspende o financiamento à África do Sul, um importante parceiro econômico do país. Essa medida é interpretada como uma tentativa de proteger uma minoria privilegiada, pois dados da Comissão de Direitos Humanos da África do Sul indicam que apenas 1% da população branca vive na pobreza, em contraste com 64% da população negra.
Além disso, a legislação recente na África do Sul, conhecida como Lei de Expropriação, aprovada em 2024, tem gerado polêmica. A lei se destina a lidar com as desigualdades históricas legadas pelo apartheid, permitindo a desapropriação de terras não utilizadas sem compensação. Um estudo indicou que, apesar de representar apenas 8% da população, os brancos possuem 72% das terras agrícolas do país, enquanto 80% dos negros possuem apenas 4% das terras.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, defende que a lei é um "processo legal constitucionalmente obrigatório" e não um mecanismo de confisco. Ele assegura que seu governo já comprou e redistribuiu 7,8 milhões de hectares a pessoas afetadas pelo apartheid. A situação se torna ainda mais complexa com as alegações de Trump, que, aconselhado por Elon Musk, afirma que "coisas terríveis estão acontecendo na África do Sul", justificando o corte de financiamento. Musk, por sua vez, tem atacado o governo sul-africano em suas plataformas sociais, acusando-o de ser "antibranco" e de estar implicado em um genocídio. Em 2023, ele chegou a declarar que estão "matando fazendeiros brancos todos os dias".
Essa ordem de Trump, no entanto, foi recebida com ceticismo entre os próprios grupos que representam essas minorias brancas. Dois sindicatos, incluindo o Solidarity, que representa cerca de dois milhões de pessoas, rejeitaram a proposta de reassentamento, afirmando que seus membros desejam permanecer na África do Sul. O presidente do sindicato, Dirk Hermann, declarou: "Nossos membros trabalham aqui e vão ficar aqui. Não vamos a lugar nenhum".
Por outro lado, o governo sul-africano nega a existência de uma perseguição sistemática aos fazendeiros brancos. Cyril Ramaphosa expressou preocupação com a desinformação disseminada por Trump e alertou sobre o crescimento de um forte nacionalismo e protecionismo. Em um discurso recente ao Parlamento, ele afirmou: "Não seremos intimidados. Estamos testemunhando a ascensão do nacionalismo, do protecionismo, da busca por interesses estreitos e do declínio da causa comum".
Além disso, a ordem executiva de Trump leva em consideração outros pontos de discórdia com a África do Sul, como as alegações de genocídio contra Israel e a colaboração do país com o Irã em acordos comerciais e militares. Em resposta ao que considerou antiamericanismo, o secretário de Estado, Marco Rubio, anunciou sua ausência na reunião do G20, que ocorrerá em Johannesburg, enfatizando que seu foco é promover os interesses americanos. A deterioração das relações entre os EUA e a África do Sul ainda provoca comemorações na China, que está atenta à situação e se mostra otimista em relação a uma cúpula no continente africano.