Em preparação para a trigésima Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), André Corrêa do Lago, presidente do evento, expressou sua visão sobre a relação entre a liderança climática do Brasil e a exploração de petróleo, especialmente na Foz do Amazonas.
Segundo Corrêa do Lago, "não há contradição" no fato de o Brasil buscar novas áreas de exploração de petróleo enquanto se posiciona como um potencial líder em questões climáticas. Durante uma entrevista à BBC News Brasil, ele afirmou que países ao redor do mundo estão realizando atividades para alcançar metas de neutralidade nas emissões, destacando que o Brasil não é uma exceção.
A Foz do Amazonas, localizada a cerca de 400 quilômetros da costa do Amapá, é um ponto de interesse para a Petrobras, que está em busca de autorização para realizar perfurações exploratórias na região. A área, parte da Margem Equatorial, é conhecida por potencialmente abrigar significativos depósitos de petróleo e gás natural.
No entanto, essa iniciativa enfrenta a oposição de ambientalistas. Eles afirmam que a exploração em uma área ecologicamente sensível, próxima à Amazônia, pode resultar em sérios riscos ambientais, principalmente no caso de vazamentos. Além disso, destacam que, em um contexto de emergência climática, abrir novas áreas para a exploração de combustíveis fósseis poderia ser prejudicial para o clima global.
Corrêa do Lago salientou que a Petrobras ainda precisa de uma licença ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para avançar. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, manifestou-se contrária à exploração, mas ressaltou que a decisão será baseada em critérios técnicos.
Na visão do diplomata, o Brasil deve continuar a explorar petróleo e combustíveis fósseis durante a transição energética, uma perspectiva compartilhada pelo presidente Lula. Em uma recente declaração, Lula defendeu que o país deve aproveitar as reservas de petróleo, afirmando que isso é crucial para viabilizar uma transição energética que necessita de investimentos. "Queremos o petróleo, porque ele ainda vai existir muito tempo. Temos que utilizar o petróleo para fazer a nossa transição energética, que vai precisar de muito dinheiro", disse.
Corrêa do Lago também comentou sobre a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que segundo ele, pode afetar negativamente os esforços de financiamento para combater a mudança climática em países em desenvolvimento. Ele acredita que a ausência da maior economia do mundo em tais compromissos tem repercussões globais, pois “se a maior economia do mundo não está orientada especificamente para o combate à mudança no clima, isso tem uma influência no mundo inteiro”.
Por fim, ele defendeu a escolha de Belém como sede da COP 30, apesar de o Pará ter altos índices de desmatamento. "Nós estamos convidando o mundo para vir para o centro do nosso maior problema", destacou Corrêa do Lago.
Essas declarações expõem a complexidade dos debates em torno da exploração de recursos naturais e a urgência das ações climáticas, refletindo as tensões existentes entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental.
Com o desafio da COP30 se aproximando, as interações entre a política energética do Brasil e suas responsabilidades climáticas serão cada vez mais analisadas e debatidas. É importante que a sociedade civil e os setores interessados acompanhem essas discussões e façam valer suas vozes nesse contexto decisivo.