Um representante do Hamas declarou nesta terça-feira (11) que a libertação de reféns israelenses em Gaza está condicionada a um cessar-fogo que seja respeitado por ambas as partes. Ele enfatizou que a "linguagem de ameaças" não será eficaz após o ultimato imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que comentou que "deixaria o inferno acontecer" caso os reféns não fossem libertados.
O Hamas iniciou a soltura gradual de alguns reféns devido ao cessar-fogo implementado desde 19 de janeiro. No entanto, a libertação de outros reféns foi suspensa até novo aviso, com o grupo acusando Israel de não cumprir os termos do acordo ao persistir nos ataques à Faixa de Gaza. Trump, um aliado fervoroso de Israel, fez um apelo no dia anterior, afirmando que o Hamas deveria libertar todos os reféns até o meio-dia de sábado (15) ou consideraria suspender o cessar-fogo entre Israel e a organização.
Em resposta, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou que Israel está resoluto em trazer todos os reféns de volta. Ele destacou: "Continuaremos a tomar medidas determinadas e implacáveis até devolvermos todos os nossos reféns — os vivos e os mortos". Essa declaração foi feita em um momento de luto pela morte de Shlomo Mansour, um israelense que foi confirmado como morto durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deflagrou a atual guerra em Gaza.
A posição de Trump provocou indignação entre palestinos e líderes árabes ao tentar impor uma visão unidimensional para Gaza, que contradiz mais de quatro décadas de política americana que favoreciam uma solução de dois Estados para a região. A devastação em Gaza é alarmante, com a população enfrentando escassez aguda de alimentos, água e abrigo, clamando por ajuda internacional urgente. Sami Abu Zuhri, um alto oficial do Hamas, declarou à Reuters: "Trump deve lembrar que há um acordo que deve ser respeitado por ambas as partes, e esta é a única maneira de trazer de volta os prisioneiros israelenses. A linguagem de ameaças não tem valor e só complica as coisas".
Trump sugeriu que os EUA deveriam assumir o controle de Gaza, fazendo uma proposta controversa que envolve a remoção de mais de 2 milhões de moradores. Ele propôs transformar a área em algo similar à "Riviera do Oriente Médio", mas essa ideia foi mal recebida, especialmente por líderes árabes. Durante um encontro com o rei Abdullah da Jordânia, espera-se que a tensão aumente, visto que Trump fez ameaças de cortar a ajuda ao país caso este não aceite reassentar os palestinos.
A questão do deslocamento forçado de populações sob ocupação militar é um crime de guerra de acordo com as convenções de Genebra, e muitos palestinos temem uma repetição histórica do que chamam de Nakba, período em que centenas de milhares fugiram ou foram expulsos durante a criação de Israel em 1948. Israel, por sua vez, nega que os palestinos tenham sido forçados a sair.
O ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, provocou controvérsia ao afirmar que Israel deve impor um ultimato ao Hamas, cortando eletricidade e água e interrompendo a ajuda humanitária. Ele declarou: "Temos que dar um ultimato ao Hamas. Cortar a eletricidade e a água, parar a ajuda humanitária. Para abrir os portões do inferno". A guerra em Gaza está paralisada desde meados de janeiro, resultante de um acordo de cessar-fogo mediado pelo Catar, Egito e Estados Unidos.
Desde o início do conflito, mais de 48 mil palestinos perderam a vida, e a maioria da população de Gaza foi deslocada internamente, enfrentando uma crise humanitária severa, conforme relatado pelo Ministério da Saúde de Gaza. Do lado israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram no ataque do Hamas em 7 de outubro e aproximadamente 250 foram capturadas como reféns.
A implementação das ideias de Trump introduziu complexidade na frágil dinâmica da região, especialmente em relação ao cessar-fogo em vigor entre Israel e Hamas. Para a Jordânia, a proposta do presidente americano de reassentar milhões de palestinos em Gaza acende preocupações sobre um iminente deslocamento em massa, ecoando a visão de que o país poderia atuar como um lar alternativo para os palestinos, algo que há muito aflige o governo jordaniano.
Essas preocupações são amplificadas pela crescente violência na fronteira com a Cisjordânia, onde a expansão dos assentamentos judaicos ameaça frustrar as esperanças dos palestinos de estabelecer um estado próprio. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um apelo para evitar o agravamento da situação, afirmando que a retomada das hostilidades resultaria em uma "imensa tragédia". Ele instou o Hamas a continuar com a libertação planejada dos reféns e pediu a ambas as partes que comprometam-se integralmente com o acordo de cessar-fogo e retomem negociações sérias. A proposta de uma solução de dois Estados, que aparentava ser uma possibilidade, parece dissipada desde 2014, com as negociações entre palestinos e israelenses estagnadas.