A volta às aulas em São Paulo em 2025 traz um novo desafio: a proibição de celulares e outros dispositivos eletrônicos nas escolas, incluindo intervalos. Essa nova legislação foi implementada para promover um ambiente mais propício ao aprendizado e ao convívio social.
Com a nova lei, os eletrônicos só podem ser usados em situações específicas, como atividades pedagógicas ou por recomendações médicas. Embora a regra se aplique essencialmente aos alunos, as escolas estão encorajando todos os funcionários a aderirem à norma para melhor exemplificar aos estudantes.
Para entender os efeitos dessa legislação, o g1 visitou diversas instituições de ensino na capital paulista, ouvindo alunos, docentes e gestores sobre suas experiências no início do ano letivo. Observou-se um clima de otimismo, com as instituições adotando uma abordagem educativa que incentiva diálogos sobre o uso responsável dos eletrônicos.
Segundo relatos, o primeiro contato com as aulas sem celulares tem sido "surpreendentemente positivo". Professores temiam o surgimento de crises de ansiedade entre os alunos devido à falta de acesso aos dispositivos, mas tal expectativa não se concretizou. Os estudantes, por sua vez, começam a perceber as vantagens da proibição, embora questionem a extensão da restrição durante os intervalos.
Jogos de cartas, tabuleiros, esportes e leitura têm proporcionado alternativas de lazer durante os momentos de descanso. As escolas planejam expandir essas atividades, enquanto alguns alunos reportam momentos de tédio. Frustrados por não poderem checar a hora em seus celulares, muitos optaram por comprar relógios de pulso, enquanto outros pedem que suas instituições instalem clocks digitais nas salas de aula.
Alunos expressam suas opiniões sobre a nova regra. Ana Clara, de 12 anos, afirma: “Eu acho essa lei boa para o horário da aula, mas no recreio... pegou um pouco pesado.” Outros, como Yasmin, de 16 anos, notam que estão mais focados durante as aulas, sem a distração constante do celular.
Esse cenário reflete uma nova cultura educacional. A proibição do uso de celulares em escolas não é uma novidade em São Paulo, uma vez que uma lei já estava em vigor desde 2007. A atual legislação visa reforçar essa proibição, expandindo-a aos períodos de descanso.
O projeto, apresentado pela deputada Marina Helou, fundamenta-se em estudos que associam o uso excessivo de celulares a problemas de saúde mental e dificuldades de concentração entre crianças e adolescentes. Para muitos educadores, a limitação do uso de tecnologia se faz ainda mais necessária após a pandemia, quando os aparelhos móveis tornaram-se parte essencial da rotina escolar.
Viviane Jordano, diretora da EMEF Padre Serafin Martinez Gutierrez, comenta: “Após a pandemia, aqueles que não usavam o celular se viram obrigados a adotá-lo para participar das videochamadas e das interações online.”
A nova fiscalização das tecnologias nas escolas é acompanhada por um esforço das secretarias de educação estadual e municipal, que orientam instituições em suas implementações. Na rede pública estadual, a orientação é que os celulares sejam guardados. Se um aluno insistir em usá-lo, os pais e até o Conselho Tutelar podem ser acionados. Já na rede municipal, os aparelhos devem ficar desligados nas mochilas.
As escolas privadas têm a liberdade de estabelecer suas próprias regras, respeitando os limites da nova legislação. No Colégio Bandeirantes, por exemplo, os alunos devem guardar os celulares em suas mochilas. Emerson Pereira, diretor de tecnologia educacional, esclarece que o uso de tablets segue permitido, mas apenas para atividades solicitadas pelos professores.
No Colégio Objetivo - Paulista, os celulares são recolhidos e guardados até o final do período escolar, com os alunos assinando listas de entrega e devolução.
A mudança já é percebida na sala de aula, com aumento na participação dos alunos nas atividades. Josiane Milani, professora de Filosofia, observa que a maioria dos alunos está mais engajada. No entanto, algumas dificuldades ainda são notadas, como a necessidade de captar a atenção de um ou outro estudante que se distrai.
Enquanto muitos educadores reconhecem a importância do uso responsável da tecnologia no aprendizado, há consenso sobre a necessidade de encorajar os alunos a buscarem informações de forma ativa e interativa, em vez de depender exclusivamente de dispositivos móveis.
As primeiras semanas de aula têm mostrado um retorno promissor com a nova regulamentação. Professores e gestores confiam que a lei ajudará a criar um ambiente educativo mais saudável e produtivo, tanto dentro como fora da sala de aula.
Com o ano letivo apenas no início, a expectativa é que esse experimento conduza a um aprendizado mais significativo e a um convívio social mais enriquecedor.