A gestão da economia e, principalmente, a gravíssima crise de segurança têm sido temas centrais no curto, porém intenso, mandato de Daniel Noboa no Equador.
Desde sua posse, em novembro de 2023, a pergunta que permeia a cabeça dos equatorianos é: votarão na reeleição de Noboa ou escolherão um novo presidente? Neste domingo, dia 9 de fevereiro, o país sul-americano realiza novas eleições gerais após um período de turbulência política, econômica e social que durou 14 meses.
Durante esse período, Noboa teve a responsabilidade de implementar suas propostas focadas em segurança e economia, as áreas mais preocupantes para os cidadãos. Depois de um início de mandato que lhe conferiu considerável popularidade, seu apoio diminuiu com o passar do tempo, embora permaneça como o candidato mais cotado nas pesquisas eleitorais. Quatro das últimas cinco sondagens indicam uma vitória para Noboa, que representa a Ação Democrática Nacional (ADN), enquanto sua principal rival, Luisa Gonzáles, do Movimento Revolución Ciudadana, liderada pelo ex-presidente Rafael Correa, aparece apenas em uma pesquisa.
A campanha de Gonzáles se concentrou em temas como segurança, investimentos sociais, educação gratuita e energias renováveis. Os analistas apostam fortemente na possibilidade de um segundo turno, que ocorrerá caso nenhum candidato consiga mais de 50% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo colocado. Além de Noboa e Gonzáles, outros 14 candidatos estão na disputa, dentre eles Andrea Gonzáles, da direita Sociedade Patriótica, e Leónidas Iza, do partido indígena e de esquerda Pachakutik. Apesar de não se acreditar que algumas das minorias conseguirão chegar ao segundo turno, suas votações influenciarão a formação da tradicionalmente fragmentada Assembleia Nacional do Equador e poderão alterar o cenário das alianças políticas no país.
O motivo para novas eleições se deve ao ex-presidente Guillermo Lasso, que, ao completar 24 meses de governo em maio de 2023, percebeu a impossibilidade de concluir seu mandato de quatro anos. Enfrentando uma grave crise de segurança e alegações de corrupção, Lasso foi alvo de um processo de impeachment promovido pela Assembleia Nacional, da qual possuía apoio minoritário, por suposta malversação de recursos referentes a um contrato de transporte de petróleo. Para evitar a destituição, invocou a "morte cruzada", um mecanismo constitucional que permite ao presidente dissolver o Congresso se este bloquear sua administração.
Com a dissolução do Legislativo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) organizou eleições antecipadas, com o primeiro turno realizado em 20 de agosto de 2023 e o segundo em 15 de outubro. Com baixa popularidade, Lasso não se lançou na reeleição e, desconsiderado como favorito, Noboa se apresentou como um novo candidato de centro-esquerda, pronto para romper com a alternância política entre o Correísmo e a direita tradicional, prometendo medidas rigorosas contra o crime. Surpreendendo muitos, conseguiu avançar no primeiro turno e, no segundo, obteve 51,83% dos votos contra 48,17% de Luisa Gonzáles. Noboa ocupou a presidência em 23 de novembro de 2023, com a missão de completar o restante do mandato de Lasso, que se encerrará em maio de 2025. Isso estabelece que, neste domingo, o Equador realizará o primeiro turno das novas eleições gerais, com a possibilidade de um segundo turno em 13 de abril. Nesse período, os eleitores não apenas escolherão o presidente, mas também o vice-presidente e os membros da Assembleia Nacional.
A luta contra a criminalidade, especialmente a que ocorre em Guayaquil, uma das cidades mais afetadas, é um dos aspectos mais críticos da administração de Noboa. A localização do Equador nas rotas do narcotráfico, a corrupção nas instituições e o crescimento das gangues que orquestram extorsões e assassinatos a partir do sistema prisional têm intensificado a violência, levando o país a um estado de emergência. Quando Noboa tomou posse, o Equador enfrentava uma das crises mais intensas em sua história recente, com uma média de 22 assassinatos por dia em 2023, um recorde alarmante. Além disso, crimes como estupros, sequestros e extorsões se tornaram frequentes.
Um evento impactante ocorreu em janeiro de 2024, quando bandidos armados invadiram uma emissora estatal durante uma transmissão ao vivo, evidenciando a preocupação social acerca da segurança e gerando um clamor pela implementação de medidas severas para reverter a situação. Noboa então decretou o estado de exceção, permitindo mobilizar as Forças Armadas nas ruas e nas prisões. Caroline Ávila, especialista em comunicação política, informou que, "ao contrário de Guillermo Lasso, Noboa conseguiu controlar a situação nas prisões, o que teve um impacto positivo". Sua estratégia resultou em uma alta aceitação popular, com mais de 80% de aprovação nos primeiros meses de governo.
Entretanto, os resultados do seu plano de segurança, conhecido como Plan Fénix, não corresponderam às expectativas radicais de mudança. O analista político Andrés Chiriboga afirmou que, "embora haja algumas melhorias nos indicadores, não houve uma mudança significativa". Oficialmente, a média de homicídios por dia caiu de 22 em 2023 para 19 em 2024; no entanto, muitos consideram tal variação insuficiente frente à seriedade da campanha contra o crime, que sofreu aumento de impostos para financiamento. Em janeiro de 2025, o país registrou seu mês mais violento em três anos, com 731 assassinatos, média de 23,5 por dia. Contudo, alguns índices de criminalidade, como roubos e desaparecimentos, diminuíram, enquanto as denúncias de extorsão aumentaram 17% e a percepção de insegurança entre os cidadãos caiu escassos 4% em relação ao governo Lasso, segundo dados disponíveis.
As ações de combate à criminalidade de Noboa foram questionadas após um trágico caso envolvendo a morte de quatro jovens em Guayaquil, que gerou forte revolta popular. No dia 8 de dezembro de 2024, quatro menores foram detidos por militares após jogarem futebol, sendo encontrados dias depois carbonizados e com sinais de tortura. Chiriboga salientou que "o caso deixou claro que os militares sequestraram e assassinaram os jovens, e tentaram encobrir o crime". Este escândalo gerou protestos massivos e resultou na detenção de 16 soldados, desafiando as táticas repressivas do governo e revelando possíveis violações aos direitos humanos.
O ano de 2024 também trouxe uma recessão econômica para o Equador, que foi atribuída a uma grave crise energética, resultando em apagões generalizados. O PIB contraiu 1,5% em relação ao ano anterior no último trimestre, um dos piores resultados desde a pandemia. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou uma queda de 0,4% para 2024, com uma leve recuperação esperada de 1,6% em 2025. Caroline Ávila comentou que "o governo de Noboa teve que lidar com muitas dívidas herdadas da administração anterior" e destacou o esforço do ministro das Finanças em equilibrar as contas em meio a uma dívida que chega a cerca de US$ 50 bilhões, equivalente a 40% do PIB. O FMI concedeu um empréstimo de US$ 4 bilhões em maio de 2024, visto como um respaldo ao governo, mas a analista advertiu que a situação econômica permanece difícil, principalmente no que tange ao mercado de trabalho.
Os apagões que afetaram o Equador foram acompanhados por prejuízos significativos para as empresas e descontentamento popular, ocorrendo desde setembro de 2023 e muitas vezes durando mais de 12 horas, uma situação originada por uma seca que diminuiu a capacidade de geração hidrelétrica. "Estima-se que 200 mil empregos foram perdidos devido aos apagões; essa é uma indicação do impacto econômico enfrentado pela população", ressaltou Ávila.
Adicionalmente, a administração de Noboa se viu envolta em polêmicas, como a crise diplomática com o México, marcada pela invasão da embaixada mexicana em Quito, onde foram feitas prisões de figuras políticas. Essa ação gerou aplausos de alguns e severas críticas de outros, por ser considerada uma violação de normas diplomáticas. Noboa também enfrentou tensões com sua vice-presidente, Verónica Abad, culminando na nomeação de Sariha Moya como vice-presidente interina, o que gerou controvérsias judiciais.
Neste cenário polarizado, a popularidade de Noboa caiu drasticamente, de mais de 80% para menos de 50%, refletindo a insatisfação popular com sua atuação. Apesar disso, muitos analistas afirmam que ele ainda permanece como favorito para a reeleição, embora os equatorianos se preparem para decidir nas urnas neste domingo.