Na última sexta-feira (7), migrantes retornaram ao Brasil após serem deportados dos Estados Unidos, trazendo consigo relatos de momentos difíceis e angustiantes durante a detenção e o traslado. O tratorista André dos Santos, que ficou preso nos EUA desde novembro, desembarcou em Belo Horizonte e descreveu sua experiência como "terrível".
André, de 26 anos, natural de Rondônia, trabalhava com maquinários agrícolas e havia buscado o chamado "sonho americano". "Minha ida pra lá foi meio que aterrorizante. Foram dias sem comer, dias de estrada, perigo de pessoas que mexem com tráfico humano e de drogas. Era um medo terrível", compartilhou o brasileiro, que entrou nos Estados Unidos de forma irregular.
Recuperando-se do trauma
O tratorista contou que até novembro, morava em Massachusetts e trabalhava arduamente, chegando a 14 horas por dia em seu trabalho. Sua rotina mudou ao ser preso pela Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) após um dia aparentemente comum. "Fui ao banco depositar um dinheiro e não percebi que estava sendo seguido. Quando terminei, fui cercado por agentes da imigração", lembrou.
Após três meses de detenção, ele expressou seu alívio por retornar ao Brasil, mas ainda se preocupa com os parentes, incluindo sua esposa, que permanecem nos EUA. "Não tive mais notícias deles. Estou preocupado", disse.
Além de André, outros deportados também relataram experiências angustiantes durante o voo. O carpinteiro Rafael Marciano, oriundo de Goiás, descreveu as péssimas condições de transporte: "Fomos acorrentados desde lá até aqui. Para usar o banheiro, não tiravam nossas correntes". Rafael ainda lembrou que a comida fornecida era insatisfatória e que um amigo havia desmaiado devido à falta de medicamentos.
Contexto da deportação
Este voo de deportação representa o segundo da era Trump, com 111 brasileiros desembarcando em Fortaleza, dos quais 96 seguiram para Belo Horizonte. Os deportados relataram ter passado horas sem alimentação antes de chegar ao Brasil. O governo brasileiro, visando melhorar as condições de recepção, proporcionou uma estrutura no aeroporto para acolher os deportados, oferecendo água, alimentação e assistência.
Recebidos por uma comitiva formada por representantes do governo, os deportados foram orientados sobre os serviços disponíveis. Além disso, a Fecomércio ofereceu transporte, alimentação e hospedagem no Sesc Venda Nova por dez dias, além de oportunidades de capacitação profissional.
O uso de algemas durante a deportação também foi um ponto controverso. Embora a prática de algemar deportados seja comum nos EUA, essas foram retiradas ao chegarem ao Brasil, conforme diretrizes do ministro da Justiça e Segurança Pública. O Itamaraty já expressou preocupação com os relatos de tratamento desumanizador durante as deportações e se comprometeu a cobrar explicações das autoridades norte-americanas.
A reflexão de um deportado
André fez um apelo aos que consideram tentar a sorte nos EUA: "Pensem bem antes de ir pra América, que lá não é o que vocês pensam que é. [...] As coisas lá são caras. Não é do dia pra noite que você vai colher o dinheiro da árvore, como dizem". Ele reafirmou que não pretende retornar ao país onde passou por tantas humilhações: "Em hipótese alguma, tentarei voltar aos EUA. Não vou mais passar essa humilhação".
O retorno traumático e as situações de sofrimento vividas por esses migrantes destacam a necessidade de uma reflexão sobre as políticas de imigração e os direitos dos migrantes. É importante que se façam ouvir as vozes deles e que a sociedade se mobilize para garantir um tratamento mais digno e humano aos deportados, bem como um diálogo construtivo sobre as condições enfrentadas por aqueles que buscam uma vida melhor.