Mais de 100 imigrantes indianos foram recentemente deportados dos Estados Unidos de volta à Índia, em um voo que ficou marcado como o mais longo nesse tipo de operação desde que o governo de Donald Trump começou a usar aeronaves militares para deportações.
Durante a viagem de 40 horas, as autoridades dos EUA mantiveram os deportados algemados, inclusive durante as paradas para ir ao banheiro, o que provocou críticas no exterior em relação à política de migração americana.
Na última quinta-feira (6), legisladores indianos protestaram em frente ao Parlamento, alguns usando algemas e ironizando a amizade entre Trump e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Além disso, a ala jovem do principal partido de oposição na Índia organizou um ato onde queimou uma imagem de Trump.
Fontes afirmam que o voo militar dos EUA transportou 104 cidadãos indianos. Este evento provocou reações intensas na Índia, especialmente a poucos dias de uma visita programada de Modi a Washington, onde ele se encontraria com Trump.
S. Kuldeep Singh Dhaliwal, um ministro do governo do estado de Punjab, fez um apelo a Modi para que utilizasse sua influência com o presidente dos EUA a fim de resolver a situação dos cidadãos indianos deportados. “Como podemos considerar essa amizade válida se não consegue ajudar os indianos necessitados?” disse Dhaliwal.
O voo, considerado o mais longo desde o início das deportações militares nos EUA, gerou relatos de deshumanização. Akashdeep Singh, de 23 anos, um dos deportados, compartilhou sua experiência: "Nossas mãos foram algemadas e nossos tornozelos presos com correntes antes do embarque. Pedimos aos oficiais que nos deixassem ir ao banheiro ou comer, mas fomos tratados de forma horrível".
Segundo ele, eles foram obrigados a usar as algemas até a chegada ao Japão, e só as mulheres foram desalgemadas antes do pouso. “A forma como nos olharam, eu nunca esquecerei... Fomos ao banheiro com as algemas”, revelou Singh.
Michael W. Banks, chefe da patrulha de fronteira dos EUA, publicou um vídeo que mostra os deportados sendo colocados no avião, onde as algemas eram visíveis nos pulsos e tornozelos de vários homens ao subirem a rampa.
“A USBP e seus parceiros retornaram com sucesso imigrantes ilegais para a Índia, marcando o voo de deportação mais longo até agora com transporte militar. Esta missão reafirma nosso compromisso em fazer cumprir as leis de imigração e garantir remoções rápidas. Se você cruzar a fronteira ilegalmente, será removido”, declarou Banks.
A CNN buscou posicionamento do Pentágono e da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA sobre o tratamento dispensado aos deportados durante o voo.
Sukhpal Singh, de 35 anos, também relatou que as algemas foram mantidas durante toda a viagem, inclusive durante uma parada para reabastecimento na ilha de Guam. "Nos trataram como criminosos. Se tentássemos ficar de pé, pois nossas pernas incharam, éramos repreendidos para nos sentarmos", desabafou.
A onda de imigrantes indianos nos EUA tem crescido nos últimos anos, especialmente entre jovens em busca de melhores oportunidades. Todos enfrentam perigosas jornadas pela América Latina para chegar à fronteira dos EUA. Esses jovens percebem cada vez mais a falta de perspectivas no Brasil, onde a crise de empregos limita suas esperanças.
Dados oficiais mostram que o número de indianos que entraram ilegalmente nos EUA aumentou significativamente, passando de 8.027 no ano fiscal de 2018-19 para 96.917 em 2022-23. Algumas famílias relataram ter vendido propriedades para levantar dinheiro suficiente para pagar os altos custos “agentes de viagem” para facilitar a travessia.
"Eu fui para trabalhar, em busca de uma vida melhor e de um futuro promissor", comentou Sukhpal, que esperava conseguir um emprego nos EUA para sustentar sua família. "Nós ouvimos sobre as oportunidades lá e como as pessoas têm sucesso, por isso eu também queria ir".