Na última terça-feira (4), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se reuniram na Casa Branca para discutir os planos futuros para a Faixa de Gaza. Durante a conversa, Trump apresentou uma proposta audaciosa para que os EUA 'assumissem' o controle do território, realocando habitantes palestinos para países vizinhos e recuperando a área devastada pelos conflitos, referindo-se a ela como a 'Riviera do Oriente Médio'.
Essa abordagem marca uma mudança drástica na política externa norte-americana, que historicamente buscou uma solução de dois Estados para o impasse entre israelenses e palestinos, e ressalta a cautela em relação ao envolvimento militar na região.
Trump revelou que os EUA assumiriam o controle a longo prazo da Faixa de Gaza, além de planejar um processo de reconstrução. "Os EUA vão assumir o controle da Faixa de Gaza e faremos um trabalho com isso também", afirmou. Grande parte do território foi devastada após 15 meses de confrontos entre Israel e Hamas, com os ataques aéreos israelenses causando danos significativos a edifícios essenciais, como escolas e hospitais.
“Nós seremos donos e seremos responsáveis por desmantelar todas as bombas perigosas não detonadas e outras armas no local”, enfatizou Trump em sua declaração. Ele também levantou a possibilidade do envio de tropas norte-americanas se necessário, embora os detalhes sobre como a realocação dos palestinos seria realizada permaneçam incertos.
Especialistas em relações internacionais levantaram dúvidas sobre a praticidade da proposta de Trump. Beth Sanner, ex-diretora adjunta de inteligência nacional, apontou que não existe um precedente claro para o tipo de apropriação de terras que o presidente sugere. “Não há mecanismo para isso. Não há precedente para isso”, indicou Sanner, ressaltando que a maioria dos dois milhões de residentes de Gaza provavelmente não desejaria deixar suas casas.
A visão de Trump não conta com o apoio da população palestina, que ao longo da história lutou pela criação de um Estado independente. Muitos habitantes rejeitaram a ideia de realocação. Atualmente, existem aproximadamente 5,9 milhões de refugiados palestinos, a maioria descendentes de pessoas que foram forçadas a sair de suas terras em 1948, quando o Estado de Israel foi criado. A ONU estima que 90% da população de Gaza foi deslocada devido ao último conflito.
Trump desconsiderou a ideia de que os palestinos deslocados desejariam retornar a Gaza, chamando a região de um “símbolo de morte e destruição”. Ele questionou: “Por que eles iriam querer retornar? O lugar tem sido um inferno.” Ao mesmo tempo, sugeriu que os palestinos deveriam ser oferecidos um “bom, fresco e belo pedaço de terra” em outro local.
Recentemente, muitos palestinos tentaram voltar para suas casas após um acordo de cessar-fogo, expressando um forte desejo de retornar, independentemente das condições que encontrariam. Nadia Qassem, uma moradora do Campo de Refugiados de Al-Shati, declarou: “Estamos esperando por este dia há tanto tempo. Queremos voltar para casa. Mesmo que minha casa esteja destruída. Sinto falta da minha terra e do meu lugar.”
A proposta de Trump também foi criticada por representantes do Hamas, que a qualificaram como um caminho para o caos. O porta-voz do grupo, Sami Abu Zuhri, destacou que o povo de Gaza não permitirá que esses planos avancem e enfatizou a necessidade de acabar com a ocupação israelense.
Em relação à Cisjordânia, Trump afirmou que ainda não havia uma posição definida, porém anunciou que uma decisão seria revelada em breve. Esta incerteza é significativa, pois durante sua primeira administração, Trump rompeu com a política tradicional ao reconhecer a soberania israelense sobre as Colinas de Golã e ao transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém.
Trump vê Gaza como uma oportunidade imobiliária, brincando que o território pode se tornar a “Riviera do Oriente Médio”, destacando as potencialidades de desenvolvimento na região. Contudo, a proposta provocou reações negativas entre legisladores dos EUA de diversos partidos, levantando questões sobre a adequação e possíveis consequências de suas ações.
O senador Lindsey Graham, por exemplo, descreveu a sugestão como “interessante”, mas também “problemática”, enquanto outros membros do Congresso expressaram ceticismo em relação ao viés unilateral que a proposta pode apresentar. A senadora Jeanne Shaheen alertou que a proposta ignora a importância de um Estado Palestino e a necessidade de resolver as preocupações dos palestinos para garantir a paz duradoura na região.
A temática em torno da Faixa de Gaza continua a ser uma questão complexa e urgente no cenário atual, mesmo diante das propostas feitas por figuras políticas influentes. O futuro do território e de sua população depende não apenas de planos, mas de um diálogo genuíno que respeite os direitos e aspirações de todos os envolvidos.
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